Logotipo O Norte
Quinta-Feira,19 de Setembro

O sentido da vida

Jornal O Norte
23/09/2005 às 11:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:52

Ronaldo José de Almeida *

Bagagem de experiência todos nós as temos. Para tanto, basta termos um pouco de vivência, aprendendo nas lições práticas da grande faculdade da vida.   

Com algumas décadas vivificadas, adquirimos um mínimo de embasamento para medirmos e sopesarmos fatos, sem antes lembrarmos que caráter e honradez não se adquirem. São qualidades que trazemos já do ato de nascer.

O conjunto das qualidades, boas ou más de um indivíduo, é que lhe determinam a conduta e a concepção moral.

Mas, como se dizia, a vivência é tudo para aprendermos a enfrentar as vicissitudes. 

Basta que reparemos a diferença que há entre as pedras na nascente e as demais na foz de um rio.

As pedras na nascente são pontiagudas, cheias de arestas, indicando-lhes sua origem primeva.

À proporção que elas vão sendo carregadas pelo rio, sofrendo a ação da água e se atritando com as outras pedras, ao longo de muitos anos, elas vão sendo polidas, desbastadas; tomam outra forma.

As arestas vão sumindo, com o que aquele mineral se nos apresentar com maior suavidade e polimento. São os chamados seixos rolados. Elas ficam, assim, na ação do tempo, dessemelhantes daquelas das cabeceiras em suas respectivas formas, sendo semelhantes tão-somente na matéria que as formou.

Quanto mais longo o curso do rio, mais evidente é o fenômeno.

Com a nossa vida acontece o mesmo.

Se nos permitimos estar em contato com as pessoas, sendo conduzidos pelo rio da vida, vamos, no atrito positivo, no contato com o próximo, eliminando arestas, desbastando diferenças, parecendo-se e harmonizando-se mais uns com os outros, sem necessariamente perdemos nossa identidade.

Não nego que alguns desses contatos e atritos nos deixam marcas, tiram lascas de nós.

Mas mostre um coração sem marcas do amor que eu lhe mostro um coração que não vivificou a sublimidade das coisas do equilíbrio masculino-feminino.

Um coração que não chorou e nem sentiu dor é um coração sem sentimentos.

E os sentimentos são o tempero de nossa existência; sem eles, a vida seria monótona, árida.

O fato é que não existem sentimentos bons, sem a existência do outro, aquela alma gêmea.

Passar pela vida sem se permitir o contato com o próximo, com o outro, é não crescer, não evoluir, não se transformar.

É começar e terminar a existência como aquela forma rude da pedra na nascente do manancial.

Quando olho para trás, vejo que hoje carrego em meu ser várias marcas de seres extremamente importantes. São as lições aprendidas daquelas pessoas que me deram a forma que sou, eliminando o meu eu rudimentar para um interior lapidado nas lições, melhores ou piores, tiradas da convivência em comunidade. Enfim, são as lições que me transformaram num ser melhor como a leveza do vento.   Os seres de grande valor percebem que, ao final da vida, foram perdendo todos os excessos que formavam sua primeira essência mais grosseira, no que vislumbram uma maior pureza interior.

Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, ínfimos, dada a compreensão da existência e importância do outro, principalmente da grandeza de Deus, é que finalmente nos tornamos grandes em valor.

Já viu o tamanho do diamante? Sabe você o quanto se tira de excesso para se chegar à lapidação melhor? É lá que está o verdadeiro valor.

Pois Deus nos criou para que no final da jornada chegássemos à essência do amor, em todas as suas formas melhores.

Deus deu a cada um de nós a capacidade de amar.

Mas temos que aprender como, para chegarmos a esse estágio, temos que nos permitir, através dos relacionamentos, ir desbastando todos os excessos que nos impedem de usá-lo, de fazê-lo brilhar.

Por muito tempo em minha vida acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins.

Não entendia que ferir e ser ferido, ter e provocar raiva, ignorar e ser ignorado fazem parte da construção e do aprendizado do amor.

Não compreendia, antes, que se aprende a amar ulteriormente, do aprimoramento dos nossos sentidos, superando aquelas coisas piores. Ora, esses sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento, e envolvimento gera atrito.

Devemos, portanto, ter atritos. Não existe outra forma de descobrir o amor, e sem ele a vida não tem significado.

Se você acha que não, veja as palavras do apóstolo Paulo:

- “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.

“E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”.

“E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”.        

  Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho; nós mudamos nos encontros.

* Advogado e escritor

Compartilhar
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por