O preço do álcool combustível

Jornal O Norte
05/11/2009 às 09:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:16

Dirceu Cardoso Gonçalves


Dirigente da ASPOMIL


aspomilpm@terra.com.br         


 


Estudos comparativos entre os preços dos combustíveis vigentes no país durante as últimas semanas revelam que só em 10 estados é mais vantajoso abastecer o carro com álcool. Nos outros 17, a gasolina é mais indicada, em razão do preço elevado do combustível renovável. Isso provoca uma certa frustração aos proprietários de veículos “flex” ou a álcool puro que, incentivados pelo governo, ao adquiri-los, tinham a certeza de alguma economia operacional.

Desde 1975, quando instituiu o Proálcool, em resposta e suposta solução à crise do petróleo, de 1973, o governo brasileiro luta pela consolidação do veículo movido pelo combustível alternativo. Investiu largas somas em tecnologia e financiamento com juro subsidiado para incentivar a produção do etanol (esse o nome do álcool automotivo), mas sofreu inúmeros revezes. Primeiro a difícil adaptação dos veículos, depois a escassez do combustível, a pressão de preços exercida pelos produtores, etc. Nos anos 90, o programa estava praticamente morto e a quase totalidade dos automóveis e utilitários leves produzidos pela indústria nacional usava gasolina. Só em 2003, com a adoção da eletrônica moderna nos veículos que proporcionou a tecnologia “flex”, permitindo a mistura álcool-gasolina em qualquer proporção, é que o combustível “verde” ganhou novo impulso.

Além do surgimento do veículo bicombustível, as noticias catastróficas sobre o aquecimento global e as exigências dos protocolos ambientais, colocaram o mundo todo em busca do álcool como combustível. Os EUA resolveram seu problema com o álcool de milho, mas existem outros locais, igualmente comprometidos com a preservação do ambiente, como o Japão e a própria Europa, que não têm como produzi-lo e são vistos como mercado atrativo para o álcool brasileiro. Internamente, vivemos hoje o mal da sazonalidade, onde a estrutura de produção e distribuição do álcool força os preços pouco se importando com os interesses do consumidor. Sente-se os mesmos problemas que quase mataram o velho Proálcool.

O governo, e especialmente as autoridades da área energética, precisam encontrar um ponto de equilíbrio e evitar a sazonalidade. O simples trato do álcool como “commodity” não atende aos interesses sociais e estratégicos do país. Carecemos de uma política onde o consumidor de combustível seja respeitado tanto em preço quanto em qualidade do produto e onde a estabilidade o permita planejar seus negócios e, com isso, trabalhar e produzir sem sobressaltos. Embora tenhamos a economia estabilizada, muitos dos preços são hoje afetados pela oscilação do custo do álcool. Isso precisa acabar.

Mercê dos investimentos e reinvestimentos feitos ao longo de quase 60 anos, hoje temos uma indústria petrolífera invejável e somos detentores de uma não menos importante produção de combustíveis alternativos e renováveis – o álcool e o biodiesel -, mas tudo isso não tem se revertido em benefício direto ao consumidor. Principalmente quando ele vê os combustíveis mais baratos em praticamente todo o mundo, inclusive nos países que o importam do Brasil. O povo chega até a pensar que o dinheiro pago a mais na bomba de combustível pode estar servindo à manutenção de programas ditos sociais que, na verdade, só servem potencializar os candidatos governistas em suas eleições e reeleições.

Aí torna-se inevitável a pergunta: Para que serve a produção nacional, que tanto defendemos ao longo de décadas?

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por