Carta do Secretário Vero
Franklin detalha contornos
da crise no governo Athos
Rudá,
Vejo com bons olhos sua “insistente” crítica e advertência, pois vêm somar-se às minhas próprias críticas, às de outros companheiros, como Cory e Paulo Ribeiro, da própria Márcia e do Dimas (ainda que cada um de nós não seja capaz de ver seus próprios erros ou seu papel), e, também, de observadores menos envolvidos diretamente no processo administrativo, como os dois deputados mais próximos, Arlen e Humberto Souto, que já se distanciam declaradamente do governo, mesmo que não formalmente, até agora, na oposição.
À esquerda, temos uma relação cada vez mais antagônica com o PCdoB, já é pública, e muitos pontos de atrito com o PT, que se reorganizou, entretanto, depois das eleições. E, o mais grave, mas fundamentalmente derivado, acredito, das deficiências políticas elencadas, vivemos um processo duradouro de queda importante, talvez drástica, de popularidade, com expressão gritante no meio do funcionalismo e na sociedade (todos os segmentos!), e com uma maioria instável, crítica, na câmara.
Esse quadro já foi antevisto (lembra de uma boa reunião na casa da
Márcia, da qual você participou?), como prognóstico, desde, pelo menos, dezembro de 2005, se nada fosse feito ou se o fosse com muitos erros ou lentamente.
Não conseguimos, ao contrário, construir uma força política a partir da ação no interior da máquina ou da sociedade, onde nos caberia aprofundar a organização das camadas ou segmentos populares e de setores médios e nos aproximarmos do empresariado mais moderno. Hoje, praticamente, perdemos a universidade e a juventude e não ganhamos ninguém.
Compreendo, cada vez mais, que essa crise tem várias, digamos, “causas”, dentre as quais você cita algumas nessa mensagem. Estou tentando ser mais agressivo, nesse momento, lembrando, como diria Milton Santos, que esses não são tempos de cordialidade. Tem que haver a compreensão sobretudo de que temos responsabilidade com a sociedade local e com um projeto político estratégico. Entendo que o “grupo” deve ser ampliado com a incorporação, pelo menos, do Paulo Ribeiro e, seria desejável, do Cori ou outro secretário.
Há, preciso acreditar, algum osso, ou músculo para iniciar um processo de recuperação, cuja energia está na nossa capacidade de reconquistar setores sociais e políticos em um projeto democrático, que deveria passar pelo Plano Diretor, pelo OP, desenvolvidos com uma recomposição política e técnica, que implicará em mudanças de posições de todos nós e incorporação de novos atores.
Para resumir, a preocupação, ou melhor, constatação, é a de que a nossa crônica fragilidade política e gerencial manifesta-se, agora, como crise - também política e gerencial - aguda, de características letais, exigindo tratamento de choque orientado por interesses estratégicos e pela velha e boa política, na qual somos péssimos. E nele, no choque (creio que temos pouco mais de um mês para iniciar as ações com gerenciamento fino e agressividade), como disse alguém, o governante terá o dever da ingratidão (e, obviamente, qualquer um de nós poderá perder, ou ganhar, poder).
Enfim, vou me esforçar para articular esse encontro proposto por você, imediatamente, na perspectiva que ele ocorra logo após a votação na câmara do projeto de reforma administrativa.
Abraços,
Vero