Rudá Ricci *

Sejam o interessante bilhete que recebemos de um gerente de UAI – Unidade de Ações Intersetoriais quando de nossa última viagem de consultoria a Montes Claros, em fevereiro deste ano. O bilhete está em nossos arquivos. Temos vários documentos desta natureza, inclusive um mais interessante, com papel timbrado da prefeitura, em que o governo revela a situação de cada UAI, contrariando totalmente a nota elaborada pelo secretário Paulo Ribeiro, conhecido por seus arroubos. Vamos ao bilhete do funcionário público, reproduzido na íntegra:

O BILHETE: 

Na primeira palestra de formação suas, ficou definido que os técnicos teriam total apoio da administração, porém até ontem não recebemos uma ajuda siquer para que agente dislocasse para os polos. Perguntas - receberemos a restituição aos vales transportes já gastos até aqui? Continuaremos a pgar, para comparecermos as atividades das UAIs? Lembre-se 6 meses se foram da primeira formação. (sic)


 


Explico a preocupação da técnica da UAI:

a) O Instituto Cultiva foi responsável pela primeira atividade de formação técnica dos funcionários e gerentes de UAI, no ano passado. Na oportunidade, o prefeito Athos fez uma longa fala para todos os técnicos. Disse que seria sua prioridade e que não teria volta. Afirmou que solucionaria o problema de transporte (ele me prometeu, em reunião no seu gabinete, que destinaria 7 veículos de uma frota que estava sendo entregue naqueles dias, para as UAIs, embora tenha pedido para não divulgar publicamente);


 


b) Tenho a lista das condições de cada UAI, inclusive o documento oficial, com papel timbrado da prefeitura, elaborado há duas semanas. Duas UAIs não existem (pode ter ocorrido que, com minhas denúncias, o governo tenha acelerado a implantação, o que será fácil comprovar se isto, que não acredito, tiver ocorrido): Centro e São João. Várias não possuem equipamento mínimo. Algumas não abrem em horário comercial. Tenho a lista de indicados pelas secretarias para serem representantes nessas unidades descentralizadas de governo. Há um caso do representante ter sido um office-boy;


 


c) O transporte dos técnicos é a situação mais emergencial, já citada em inúmeros relatórios que enviamos ao governo e que nunca teve uma resposta.


 


Confesso que a nota da secretaria de Comunicação da semana passada deixou a direção do Instituto Cultiva sem grandes alternativas. Há um provérbio chinês que sugere que, quando você tem um adversário, é preciso deixar sempre uma passagem aberta por onde ele possa sair. Caso contrário, ele se transforma em inimigo. Maquiavel, por sua vez, ensinou que o bom governante tem a força de um leão e a astúcia de uma raposa. Contudo, o melhor governante é aquele que nunca utiliza a força, apenas demonstra, com astúcia, que a possui. Tenho a convicção que o senhor Paulo Ribeiro não lê chineses e Maquiavel. É uma pena.

A filósofa Hannah Arendt dizia que a educação humaniza os homens. Não nascemos humanos justamente porque nossa espécie se forma a partir da disseminação das nossas experiências através da linguagem. Nenhum macaco se vê a partir da experiência de algum outro macaco ancestral. Mas cristãos, budistas e tantos outros religiosos, seguem a experiência de algum líder que viveu milênios atrás. É mais humano quem compartilha (lê, por exemplo) a experiência de outros humanos disseminada pela linguagem. Lamento que o senhor Paulo Ribeiro não leia tais autores. Seria mais humano.

* Coordenador do Instituto Cultiva