O homem plural

Jornal O Norte
Publicado em 01/10/2010 às 10:00.Atualizado em 15/11/2021 às 06:40.

Paulo Hermano Soares Ribeiro


Professor de Direito Civil e Tabelião de Notas em Montes Claros



Conheço um sofisticado homem de letras que sabe que o pequi desce sozinho do pequizeiro, e que é melhor alimento quando se esparrama no solo por vontade própria; sabe que o fruto do cerrado somente deve ser convencido pelo vento - guardião da maturidade - a perder sua filiação com a árvore.



Conheço um homem da cidade que sabe ser a morte da gramínea apenas aparente e que a palha ainda respira esmaecida sob o sol impiedoso do cerrado. Que conhece o capim flecha e o ipê, o tamanduá-bandeira, a ema e o logo-guará.



Este homem das letras sabe da terra porque pertence a ela, e a erudição não eclipsa a memória de seus braços sertanejos.



Conheço um sertanejo que sabe das artes, das ciências e da técnica. Conhece o pleno de aula, a lousa, o giz e o computador. Sabe que o homem deve compreender o meio em que vive, adaptar-se e promover as revoluções, que sua vocação para o infinito reclama. Que o homem deve ser formado e não apenas informado. Conhece a cátedra, de onde transmite suas experiências vividas e conhecimentos coligidos.



As mãos do sertanejo não inibem o tirocínio do educador.



Conheço um educador que sabe o segredo das águas barrentas do Velho Chico e possui a arte de enganar o peixe graúdo com vara e carretilha. Sebe de salteado a cantiga que o rio compõe à lua quando ela se debruça no horizonte de suas águas. Sabe o momento certo de escutar o vento, recolher as redes e lançar esperanças.



O tirocínio do educador não esmaece a esperteza do ribeirinho.



Conheço um ribeirinho versado na arte de governar. Que conhece os anseios e necessidades do povo e aprendeu a falar sua língua. Que tem intimidade com o poder dominando-o, sem ser subjugado pelo abismo das ilusões transitórias. Que conhece a estrutura da política, porque ajudou a construir seus andaimes.



Conheço um ribeirinho que foi o prefeito mais jovem do Brasil.



Conheço um político que sabe como se medem os quinhões de terras e se partilha coisas para recuperar homens divididos. Conheço um político que escreve romances, poesia e filosofia.



Conheço um poeta que sabe a métrica da acusação e a sutileza da defesa. Um romancista que conhece a intimidade da lei e dos conceitos de direito. Que é criador de sua própria doutrina, perenizada na materialidade indelével de seus livros sobre direito público. Conheço um filósofo advogado.



Conheço um homem de múltiplas luzes que tem uma pedra no nome, uma águia no cérebro e uma açucena no coração. Diferente de seu homônimo da literatura machadiana alcançou a celebridade com sua obra, o êxito com a inspirada transpiração, e legará para sua descendência a fortuna de sua trajetória.



Petrônio Braz é este moço plural. Sertanejo, educador, ribeirinho, político, agrimensor, advogado, escritor, empreendedor e tantos outros Petrônios que é difícil contar tantos. Já me penitencio de tantos que certamente me esqueci de mencionar.



Sei que perto dele somos anões, mas confiando em sua generosidade, espero que releve a aridez destas breves linhas, tentativa inglória do himenóptero render homenagens a um proboscídeo.



Enfim, para enfadar o fundador da ACLECIA (Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco), depois de ler seus livros, conhecer sua biografia e testemunhar seus feitos, comunico-lhe por escrito o imenso orgulho que tenho de ter nascido na mesma região, e ser contemporâneo de sua semeadura.

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