O enigmático Samuel Costa

Jornal O Norte
Publicado em 03/03/2008 às 10:38.Atualizado em 15/11/2021 às 07:26.


Foi nos anos 70 que tive o privilégio de conhecer o sofismado acadêmico Samuel Costa Fernandes. Então com seus 26 anos e eu com 23 anos. Ele, por sua vez, gostava de estar sempre bem apresentável, cabelos meio crescidos e barba por fazer, o que o diferenciava dos demais. Eu cursava Direito e ele Agronomia, mas isto não dificultava em estudarmos juntos, pois era ele um profundo estudioso das leis e isto, às vezes, fazia-me sentir, que o mesmo era um efêmero colega, sabia que ele galgaria o muito por ele desejado.



E deu no que deu, desapareceu o meu amigo Samuel. Logo que me formei, abdiquei dos meus conhecimentos de advocacia e fiz concurso em um órgão estadual, e trabalhei até me aposentar. Meu esposo foi transferido para a cidade de Janaúba e tive que acompanhá-lo. Gente!, que bela surpresa vim a Montes Claros para tratamento de saúde e, no domingo, quando passeava na feirinha de artes na Praça da Matriz, deparei com um senhor de cabelos grisalhos, meio gordinho, mas a aparência ainda muito bonito.



Eis que se tratava de meu efêmero colega Samuel. Ele quase não me conheceu mas, falando pouco, ele esboçou um lindo sorriso e logo me abraçou e, radiante, dizia que não acreditava ser eu a Fátima dos velhos tempos.



Deus nos proporciona bons momentos aqui na terra. Sei que também proporcionara para nós bons momentos ao teu lado, quando dispensarmos esta veste a que chamamos de matéria, sei que este privilégio será para poucos, por isso mesmo já fiz reserva antecipada e estou já de posse de meu salvo conduta.



Sei que nesse mistério pós-vida reencontraremos todos aqueles que fizeram a história terrena se propagar, a história contada nas crônicas verdadeiras de Samuel, contestadas por muitos. Sei que muitos o chamavam de sombra, pois sempre preferia a escuridão e o anonimato, era ele um quase anti-social, pois não gostava de participar das falcatruas desta sociedade podre, objeto de traição.



Hoje, sinto uma enorme tristeza por saber que, indo a Montes Claros, não vou mais poder ver meu contestável amigo, mas eu o amava daquele jeito, não vou mais sentir seu abraço, não vou mais sentir o meu coração disparar, pois o tempo parou o coração que fazia harmonia com o meu. Samuel partiu e nem seus restos mortais aqui ficaram, mas ficou plantada a árvore da verdade em suas crônicas e poesias.



Sei que ele não morreu, ele se encantou, pois os escritores nunca morrem. Até um dia, Samuel!

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