Ah! O umbigo; essa pequena jóia foi reinventada em definitivo, em Saint-Tropez, na Riviera Francesa, muito embora Vinicius, o poeta maior afirme que, o vértice supremo da paixão, situa-se no centro do corpo a aproximadamente cinqüenta por cento da altura do mesmo. Exatamente um pouco mais abaixo, da localização preconizada no país do “baquette”.
Inventaram de tudo com referência ao umbigo: concursos, tabelas comparativas e avaliativas. Bem, vejamos: retorcido, em espiral, quase redondo, um vértice, vulgar, sensual, polpudo, em alto e em baixo relevo, quase não manifesto (escondido por alguma pele fina e tímida).
Há o tipo máxi ou mini, o intermediário, o destro-convexo, e o oculto, que é mantido longe das vistas do “voyeur”. Entretanto, acessível à visão e ao toque do apaixonado.
Destaca-se e bem, quando visto, mesmo subitamente, pela abertura de um suave “peignoir”.
Umbigo combina, em primeira mão com: vinho tinto, champanhota, pétalas de rosas vermelhas ou amarelas, com Yves Montand cantando “Feuilles Mortes”, com o estar em Casablanca em tarde de pecado. Naturalmente, com “As Time Goes By”, cantado pela boca de Angelina Jolly, na penumbra; e, aos ouvidos, com suflê de maracujá com fundo de nozes e, com a língua, quando em uma busca frenética encontra uma baga de uva no meio de alguma cobertura doce.
O umbigo de Cleópatra era chamado de “umbilicu divinus”, por Marco Antonio, e o português explorador do nosso ouro batizou o de Chica da Silva de “umbigo de ébano”.
O umbigo, este sim! É o centro da criação e sede da paixão! Alguns parecem mesmo um escaravelho e, também, com o olho que tudo vê. Fica tête-à-tête com o seu semelhante durante um amplexo! Por sufixo é masculino e por preferência feminino.
Umbigo combina com estar de joelhos, num momento de submissão ou súplica e, tocado pelo fogo da paixão, beijar este vértice da luxúria! Combina com mini-blusa, com blues injetado pelo solo de um trombone abafado fazendo tremer a consciência do suplicado.
Combina com o estupor produzido pela embriaguez na emoção do apaixonado, recém desprezado.
Drummond a ele se refere dizendo deixou o umbigo na terra onde nascemos. Ah, já ia me esquecendo! Há os que o usam para dar umbigadas enquanto dançam como numa farândola,
As Estâncias de Dziam, livro sagrado dos tibetanos, segundo o umbigo é um ponto que pulsa por princípio, com as suas linhas se estendendo em curva, à direita sempre para o fundo... Até encontrar o seu próprio ponto de partida.
Algumas mulheres (estamos falando de umbigos femininos) chegam a macular esta jóia usando “pircing”, que horror! Algo tão sensível e sutil tão próximo ao citado centro da paixão!
Às vezes, ou quase sempre, se sobrepõe em mistério ao monte de Vênus, se tornando, assim, o portal de Afrodite, a morada de Eros. O início do caminho da perdição, a via da lascívia.
Ah! O umbigo! Muitas vezes não notado, mas só o vendo de perto é que sabemos da sua importância. Uma pequena flor dos campos, outros mesmo, um botão, que pode murchar antes de florescer, uma mistura de mistério e cicatrização cirúrgica. Plantado no centro da cidade sagrada de nove portas, é a porta do mistério feminino. Do mistério desse bem supremo, que é a mulher, que por ser um ser especial, foi bolada e feita em separado.
Há! Lembrei-me! Há umbigos que parecem os olhos de Charlotte Panpling. Vale lembrar que, de gosto é inodoro, ou mesmo, quase insípido, quando ao natural.
Como definir então o umbigo se o mesmo é procurado com sofreguidão até pelos que buscam o vocábulo, nas entranhas do vernáculo.
Para finalizar, em matéria de umbigo, todos conheceram a famosa mancada de Portinari, que pintou na Igreja de São Francisco, na Pampulha, Adão e Eva com umbigos, esquecendo-se de que, por não terem sido gerados, não podiam ser portadores do excitante e sensual apêndice...