Bruno Peron Loureiro
Bacharel em Relações Internacionais pela UNESP
Na última década, tornou-se freqüente a preocupação em torno do possível colapso do transporte urbano no Brasil, ao mesmo tempo que crescem as notícias apocalípticas e o debate sobre o tema. É um problema geralmente inspirado pelo crescimento acelerado das cidades grandes, cujas avenidas principais se congestionam nos horários de pico ou por qualquer acidente, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, mas que tem assustado até os habitantes de cidades há pouco tempo pacatas.
Assim, o problema não afeta somente as cidades grandes, mas também as de porte médio, cujos habitantes reclamam de congestionamentos de algumas vias, do ruído excessivo e da contaminação veicular. As soluções imediatas que têm sido dadas pelos governos municipais é a instalação de semáforos, a construção de pontes, o aumento da frota de ônibus, entre outros. No entanto, estas resolvem a curto ou médio prazo até que haja uma nova expansão veicular a ponto de exigir uma outra medida, que costuma ser cara no âmbito das obras e motivo de propaganda eleitoral.
Algumas dessas medidas vão na contramão do futuro, pois estimulam o uso de carros mais antigos, que contaminam mais, através da isenção de cobrança de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para automóveis fabricados há mais de vinte anos em vez de facilitar e promover a compra dos novos, mais seguros e menos poluentes; além disso, só o incentivo ao uso de transporte público não resolve o problema, pois enquanto cedemos nesta facilidade, os países da América do Norte usufruem de um estilo de vida em que praticamente todos os habitantes em idade legal têm carro, em alguns dos quais só falta banheiro para assemelhar-se a uma casa.
Não é à toa que podem ter carros grandes e confortáveis, amiúde movendo-se com um único passageiro, uma vez que encontraram um meio mais ecológico de continuar fabricando-os: o Brasil produz o etanol e o exporta, enquanto nossa população é estimulada a dirigir menos, usar o transporte coletivo, ou coagida a fazer rodízio sob risco de multa. Estas contradições nos incentivam a exigir medidas mais pertinentes das autoridades sem ter que reduzir a qualidade de vida. Afinal, divulga-se que o Brasil é auto-suficiente em petróleo e está na vanguarda tecnológica em fontes alternativas de energia, enquanto sua população se vê castrada no seu direito de locomoção veicular.
Pelas dimensões amplas do Brasil e a extensão das regiões periféricas das cidades, o que falta é investir na expansão e modernização de suas vias de transporte, embora o custo seja elevado. Pedágio urbano e rodízio veicular são medidas que aliviam, mas são provisórias porque dentro de mais um tempo retornam os congestionamentos com a tendência de aumento do número de veículos. É preciso instruir os motoristas, fiscalizar a frota, incentivar o uso de outros meios de transporte, melhorar a sinalização e a condição de ruas e avenidas com urgência. Estas soluções parciais, aliadas a um planejamento a médio prazo para a construção de vias alternativas, podem reduzir a previsibilidade do colapso a um sintoma menos nocivo do transporte urbano.