O choque e o resultado - por Sarah Pará

Jornal O Norte
Publicado em 23/05/2008 às 11:18.Atualizado em 15/11/2021 às 07:33.

Sarah Pará



Choque de gestão, uma ferramenta. O primeiro mandato do governador Aécio Neves de 2003 a 2006, chegou  com muita novidade. Principalmente para o funcionalismo público. Foi utilizada a ferramenta choque de gestão para implementar mudanças substanciais a partir de desafios contemporâneos em gestão pública. Como estratégia, reorganizar e modernizar a administração pública estadual, promover o desenvolvimento econômico e social em bases sustentáveis, e recuperar o vigor político de Minas Gerais. O resultado em curto prazo para o Estado foi o déficit zero. Muito se ouviu falar em choque de gestão, gestão pública, gestão de pessoas, infra-estrutura, desenvolvimento social, desenvolvimento econômico e político.  Há conhecimento no mundo da administração que muitas empresas de grande porte tentaram utilizar esta ferramenta e não obtiveram êxito, exatamente pela sua agressividade na cultura da organização. Por meio de pesquisa, para artigo científico de conclusão de MBA - Master of Business Administration -, (pós-graduação), trouxemos à luz o conhecimento sobre a forma que se desenvolveu a reestruturação da máquina pública mineira, tida como falida, com um déficit de R$ 2,4 bilhões em 2003. Antes de originar o choque de gestão, a Receita Corrente Líquida – RCL comprometia 103% com as vinculações institucionais, 72% destes somente com o pagamento de pessoal, havia dificuldade para o pagamento dos servidores em dia. – Dados da Seplag - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão.  A dívida com os fornecedores chegou à casa de R$ 1,3 bilhões, além da inadimplência com o governo federal que resultava em pagamento de multa. Com um olhar acadêmico e conhecimento como funcionária pública estadual, percebemos que uma máquina administrativa do Poder Público é muito mais complexa do que uma mega empresa privada, com todos os seus valores administrados na planta do negócio e da missão. O funcionário público depende de muito treinamento para quebrar os velhos paradigmas e fazer um atendimento condizente com as necessidades do seu público-alvo. Os vícios estão arraigados, levando a cultura e o clima da própria organização a criar uma intensa resistência. O choque de gestão do governo de Minas foi enfatizado como modelo para outros estados do Brasil. O resultado foi comemorado pela equipe do governo e houve alto investimento mercadológico para explicitar o feito. É muito importante a consciência de que uma transformação administrativa dessa magnitude não se pode esperar resultado imediato. No mínimo deve haver mais inteiração por parte das pessoas envolvidas no passo a  passo do processo, que são os servidores públicos. Estes, na sua maioria, não têm ainda conhecimento global da proposta do governo desde o seu primeiro mandato, na aplicação da ferramenta do choque de gestão. O que gera muita expectativa para o funcionalismo público estadual, poucos sabem desta ferramenta como ajuste ou redesenho organizacional e o que vem a partir daí! Megginson, Mosley e Pietri Jr., sugerem que na cultura organizacional há de se tomar muito cuidado ao iniciar um processo de redesenho - Desenvolvimento Organizacional – DO, levando em conta a necessidade de suporte da alta administração, ao ambiente onde será implementado e quanto à complexidade do processo. Uma mudança organizacional traz sempre inquietação e desconforto para quem faz parte do sistema. Com romantismo não se aplica nenhuma mudança radical com eficiência e eficácia. Mas há de se levar em consideração, para efetuar o redesenho do desenvolvimento organizacional é preciso conhecer todo o clima e a cultura das organizações que formam a grande rede administrativa de Minas Gerais. O sentimento de boa parte dos funcionários públicos é que o “governo” não está preocupado com esta teia de relacionamento. Neste universo muitos estão habilitados para compor uma equipe especializada. Alguns, com graduação e pós-graduação. O que mais chama atenção é o fato de órgãos estaduais utilizarem terceirização para contratação, sendo que, no quadro de servidores estaduais efetivos, têm profissionais competentes, graduados, sem oportunidades.



Entre o primeiro e o segundo mandato, já se passaram seis anos e meio da gestão do governador Aécio neves, e as realizações econômicas aconteceram com sucesso. Não está na hora de se pensar numa política de valorização efetiva do funcionalismo público estadual, com mais celeridade, com análises criteriosas para casos de funcionários que estejam sem função e com potencial para desempenhar tarefas mais específicas, com salários compatíveis e barateamento da linha de contratação? Este aproveitamento da própria máquina administrativa racionaliza despesas com concursos e/ou terceirização. Além de valorizar o profissional da casa, aumenta a auto-estima, atinge maior índice de satisfação e, o resultado é positivo, tanto no desempenho da função, como no melhor conceito de atendimento ao público. Isto é reconhecido em qualquer empresa bem sucedida. Criou-se um estigma de que o servidor público, de modo geral, pouco se compromete com o resultado de sua prestação de serviço, o que muitas vezes gera constrangimento para quem precisa recorrer às repartições públicas. Em certos momentos de visão, o que se espera é a consolidação da valorização do quadro do funcionalismo público estadual. Treinamento, por exemplo!  Dentro do urgente e importante a gestão de pessoas não tem sido prioridade. Os colaboradores, principalmente do interior de Minas, não têm acesso à comunicação eficiente com os seus superiores hierárquicos, em nível de tomada de decisão. E isto é um dificultador para o entendimento e a eficácia no comprometimento profissional. No seu segundo mandato, o governo de Minas tem assistido algumas manifestações de greve. Reivindicação de melhores condições de trabalho e salários de servidores responsáveis pelo atendimento de serviços essenciais à população. O choque de gestão, em relação ao funcionalismo do Estado, quanto à aplicabilidade das expectativas criadas para o quadro, ainda não foi concretizado. Espera-se que daqui para frente seja dada uma atenção especial para este tema. Como funcionaria pública estadual, graduada em administração com habilitação em marketing, e especialista em liderança e gestão de pessoas, com projetos implementados, executados com sucesso, na própria esfera estadual, temos um olhar mais crítico sobre as ações do governo, não uma crítica pela crítica.  Sabemos da seriedade na proposta e ação governamental, só não compreendemos a morosidade em se estabelecer melhores salários e condições de trabalho para os servidores habilitados, principalmente para aqueles com potencial para desempenhar tarefas mais complexas, o que vai colaborar muito com a nova mentalidade e gestão Aécio Neves. Em Minas Gerais, politicamente, as ferramentas do marketing estão sendo bem utilizadas mas, quanto à gestão de seus colaboradores, “chão de fábrica”, ainda não se vislumbra nenhum beneficio. Uma mudança pelos métodos humanos só acontece quando as pessoas da organização são motivadas, e interiorizam os conhecimentos e treinamentos recebidos e os praticam.  Para Senge, a aprendizagem está mais profundamente ligada à motivação e ao comprometimento das pessoas com a “missão” geral da organização.  Para o Estado, a “visão” é muito mais estratégica, para onde o governador quer ir: ele pretende ser presidente do Brasil.  Em Minas,  há cerca de 420 mil funcionários públicos, este pode ser o fiel da balança, se levar em conta dados do próprio funcionalismo público, constatam haver no mínimo três pessoas, eleitores, ligados diretamente ao funcionário público: ou seja, 420 mil X 3= um milhão, duzentas e sessenta mil pessoas aproximadamente, número que não deve ser desprezado por nenhum homem público. O resultado do choque de gestão na área econômica possibilitou ao governo de Minas empréstimos financeiros internacionais, sem restrição. E quanto à valorização do funcionalismo público, será para 2010?

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