O Café Galo e Mané 400

Jornal O Norte
Publicado em 22/07/2009 às 09:55.Atualizado em 15/11/2021 às 07:05.

Mário Mendes de Queiroz



Estamos situados numa época bem distante dos dias atuais. Época dos carros, bois, das carroças, das tropas de jegues, do lombo do cavalo, das tropas e dos tropeiros do Ford, das lenharias dos fogões á lenha, das cadeias e dos lampiões, do café e do arroz socado no pilão, das lenharias e das botinas rangedeiras. Do bosque, das bingas de pavio e dos cigarros de palha. Das notas de quinhentos mil reis, (capa de cangalha) e das “nicas” de quatrocentos reis, esta lista se entenderia infinitamente.



Coisas do passado, que ficaram para trás nos livros de história, registrando uma época remota? Não? Coisas vistas e vividas por muitos dos que ainda estão vivos, coisas de um passado recente: tropas de jegues na rua vendendo feixes de lenha dos fogões fumarentos, das panelas pretas de fuligem, das lenharias das esquinas dos lenhadores, com os seus machos nos ombros batendo de porta em porta...



- Tem lenha pra rachar?...



Não existia fogão a gás! As mais ricas mansões não os possuíam, porque simplesmente não tinha sido inventado ou disseminado o seu uso. Somos testemunhas vivas desse tempo não tão distante.



Quando circulo pelo Centro de nossa cidade, que é a parte velha, onde tudo acontecia, lembro-me nitidamente das lenharias, instaladas estrategicamente para servir a vizinhança, como são hoje os depósitos de botijões de gás. Lembro-me também dos lenhadores. Um especificamente, baixo, atarracado, musculoso por força de suas atividades, um tipo alegre e brincalhão, que cativava todo mundo. Com o seu machado afiado às costas, de casa em casa, cortava e rachava lenha, num tamanho compatível com a boca do fogão.



De vez em quando, de linho Braspérola feito sob medida pelo Vavá alfaiate, impecavelmente limpo e engomado, já puído pelo uso, e se dirigia para o ponto perfeito no Centro da cidade. Um pequeno café que era frequentado por jovens e senhores da sociedade. Quando ali chegava, era uma festa. Cumprimentava e era recebido com entusiasmo por todos. Brincava e fazia piadas com todo mundo! Era de fato um gozador...



De certa feita chegou sisudo, postou-se no meio da rua, colocou a mão espalmada na testa e olhava o céu. Logo estava rodeado dos seus amigos, também querendo ver o estanho objeto, que somente ele parecia ver... Depois de insistentes perguntas, ele apontava o dedo e dizia:



- Olha lá...



- O quê? Onde? - perguntavam todos...



Ele bradava o seu refrão predileto:



- Ô lalaica, é a nuvem, seus curiosos. Nunca viram nuvens...



Saía dando risadas. Manoel Quatrocentos era o seu nome. Esse café ainda hoje existe, e como nos tempos passados ainda é ponto de reunião dos idosos e de muitos jovens. É o Café Galo, e o que muitos não sabem por que tem esse nome de Café Galo. É o seguinte: Dr. Hermes de Paula era proprietário daquele prédio onde morava, e sua ampla residência próximo à igrejinha do Rosário transformou aquele prédio em pontos comerciais, mas, sobrou aquela esquina minúscula. Decidiu ele que somente serviria para um pequeno café, sem assentos. Alugou o ponto e o nome dado por ele mesmo - Café Galo - porque, como o galo, o freguês era atendido rápido e em pé.



Hoje, a área foi ampliada e colocadas ali algumas cadeiras, o que é compreensível, pois ainda é frequentado por muitos galos dos primeiros tempos, já que não aguentam tomar o café em pé, enquanto jogam conversa fora.

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