Gildásio Gonçalves *
No atual mundo globalizado e competitivo, muito se tem falado em chefia e liderança: temas que têm exigido estudos e aprimorando daqueles que exercem funções de gerência.
Como bem sabemos, chefiar é, simplesmente, fazer um grupo funcionar para que sejam atingidos determinados objetivos. Liderar, mais do que isso, é a habilidade de exercer influência e ser influenciado pelo grupo, através de um processo de relações interpessoais adequadas para a consecução de um ou mais objetivos comuns a todos os participantes. Sabemos, ainda, que há diferentes estilos de lideranças, cada qual com sua importância e aplicabilidade prática a situações concretas, desde que exercidas conscientemente.
Mas, afinal, qual o estilo de lideranças mais recomendado? Quais as virtudes exigidas ao bom gerente? Ao bom gerente é preferível ser amado ou temido? As ordens devem ser razoáveis para serem cumpridas?
Sun Tzu, em curto texto, em treze capítulos, intitulado A arte da Guerra, sobre táticas e técnicas de combate e filosofia, com forte influência do taoísmo, escrito no Período dos Estados Guerreiros, cerca de 500 anos a.C., na China milenar de Lao-Tsé e Confúcio, dentre seus inúmeros ensinamentos, proclamou que a maior das habilidades é vencer os inimigos sem lutar e que o verdadeiro objetivo da guerra é a paz.
Apesar de ser um livro de artes bélicas, os ensinamentos do mestre Sun Tzu transcendem a aplicação militar. As suas estratégias militares são, hoje, utilizadas como estratégias empresariais no mundo globalizado e competitivo dos negócios.
No capítulo X de sua obra, ao tratar da natureza do terreno, extrai-se dos seus ensinamentos que os bons comandantes devem ser amados e temidos.
Nicolau Maquiavel, no século VXI, publicou O Príncipe. Apesar de moralmente criticado, modernamente os estudiosos de Maquiavel têm procurado romper com a tradição de crítica do ponto de vista moral ou ideológico, procurando-se mais determinar a contribuição específica que ele deu à história das idéias. Como em A Arte da Guerra, Maquiavel, em O Príncipe, nos mostra o caminho da vitória em todas as espécies de batalhas.
Tratando da crueldade e da piedade – se é melhor ser amado ou temido – Maquiavel afirma que é mais seguro ser temido do que amado, quando se veja a falhar numa das duas. Justifica ele que os homens costumam ser ingratos, volúveis, dissimulados, covardes e ambiciosos, pois enquanto lhes são proporcionados benefícios, todos se dizem contigo, oferecendo-lhes sangue, bens, vida, filhos etc., desde que a necessidade dessas coisas esteja bem distante. Todavia, quando se lhes são exigidos tais sacrifícios, voltam-se para outra parte.
O Pequeno Príncipe, de Antonie de Sait-Exupéry, apesar de pejorativamente rotulado como livro de cabeceira de miss, nos traz lições para toda a vida e vem resgatar aquela criança esquecidas às vezes, mas com valor incomensurável.
O principezinho, em suas viagens pelos planetas, procurando instruir-se e ocupar-se, encontrou em um deles um rei. O rei, em toda a sua majestade, dizia que suas ordens eram razoáveis, por isso era sempre acatado. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. A autoridade repousa sobre a razão.
De fato, se o gerente deseja ser obedecido, deve sempre lembrar que o limite de suas ordens deve ser a capacidade de obediência de sua equipe. O que, em síntese, diferencia a autoridade do autoritarismo é a razoabilidade.
Cada qual a seu modo e no seu tempo, Sun Tzu, Maquiavel e Saint-Exupéry nos trazem lições com aplicabilidade em nossas empresas, nossas escolas e nossos lares. Assim como as virtudes da sabedoria, sinceridade, humanidade, coragem e exigência são exigidas a um general, igualmente o são exigidas aos governantes, diretores, gerentes, professores e pais.
Assim, o bom gerente deve ser amado pelos membros de sua equipe de trabalho, sendo ético, humano e usando sempre empatia. Ao mesmo tempo, deve ser temido, ou, se acharem melhor, respeitado, sendo exigente, cobrando compromisso, dedicação e responsabilidade consciente e, quando necessário, punindo os recalcitrantes. Finalmente, suas ordens e orientações devem ser amparadas pela razão, exigindo-se o que cada um pode dar, fazendo com que sua equipe queira fazer e não que simplesmente faça.
Eis alguns dos segredos do bom gerente.
* Policial militar e bacharel em Direito