O banquete dos mendigos

Jornal O Norte
18/08/2006 às 12:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:41

Ronaldo José de Almeida *

A eleição de 2002 levou os eleitores realmente a acreditarem que podiam mudar as coisas com o poder de seu voto.

O cavaleiro da esperança com o seu palavreado fácil, usando a força do vernáculo, iludiu uma nação inteira, e assim o proletariado lhe deu uma expressiva votação e festejou sua vitória imaginando os dias melhores que certamente viriam.

Mas é claro que quanto maior a altura, maior é o tombo. Quanto maior é a ilusão, mais sofrida é a desilusão.

A esperança ficou com medo, as ilusões se esvaíram, a mudança não veio e instalou-se o pessimismo. O mesmo descrédito de sempre contaminou novamente a opinião popular.

Diante dos últimos acontecimentos, mais especificamente os escândalos de corrupção, torna-se importante precisar a caracterização brevemente sumariada.

O governo Lula, escudado no PT, transformou-se completamente naquilo que combatia, encerrando objetivamente o seu ciclo histórico. Se já era um partido neoliberal, é agora também corrupto.

A caixa de Pandora destampada por Roberto Jefferson avivou a população dormente. Tirou a casca da ferida mostrando a todos o processo irreversível em que, devido a causas diversas, estava em deterioração celular e conseqüente perturbação funcional, evoluindo no sentido da necrose. 

Nesses momentos decisivos, há grande excitação no ar. A política volta a estar na boca de todos, os pretensos candidatos não sossegam, estão em todos os lugares, precisam estar em voga.

Lula não foge á regra, percorre o Brasil de fora a fora inaugurando até mata-burro, não pode ver um tijolo que sobe em cima e faz discurso.

Numa cidade que não recordo o nome, ele no meio de um discurso, mandou subir ao palanque uma cachorrinha que estava juntamente com seu dono no meio do povo. Por pouco não lhe dava beijinhos, ridículo demagogo.

Como sempre, há mais verborragia do que substância. Setores da esquerda petista e dos movimentos sociais ensaiam uma última e desesperada defesa do governo.

Sob o argumento de que Lula representa o resultado de um longo processo histórico, de acúmulo de forças progressistas que é preciso preservar, apelam a todos os simpatizantes das causas da esquerda para entrincheirar-se em defesa do governo.

O povo, ainda abalado com a corrupção escancarada do governo, encontra-se atordoado, de olhar vazio, não há maquiagem que a cúpula do PT possa fazer para mudar a imagem do partido, qualquer estratégia será absolutamente nula.

As falcatruas dos integrantes do governo aplicaram a dosagem ideal e suficiente para atarantar Lula e erodir seu prestígio a ponto de impedir sua reeleição ou de qualquer outro candidato petista.

Se Lula acreditou que estaria sendo aceito, assimilado e metabolizado pelo povo brasileiro, muito antes do que pudesse imaginar, está sendo excretado por ela.

A sociedade anda de boca aberta com tanto escândalo e maracutaias do governo e tem consciência que a mudança tão esperançosa foi para pior.

O presidente finge não saber o que se passa, desconhece tudo que se passa no Brasil, não tem conhecimento de mensalão, valerioduto, corrupção nos correios, dinheiro na cueca, não sabe de nada.

Já se passaram 41 meses de desgoverno Lula. O ocupante do Palácio fez 104 viagens ao exterior, ou seja; mais de duas por mês, o que equivale a semana sim, semana não. Acrescente-se a este numero mais 285 viagens pelo o Brasil.

Até o mês passado (julho), foram 384 dias fora do País, desde que assumiu. Esteve ausente portanto de Brasília, 80% do mandato.

Nos 1.216 dias de presidência, passou 987 dias fora do Palácio do Planalto e 605 dias fora de Brasília. Portanto pode alegar que não sabe de nada mesmo. (coluna do Cláudio Humberto)

É uma situação totalmente inaceitável e absurda, o povo esperava uma atitude do seu presidente, mas não aconteceu e ele continua inerte, desconhece tudo ao seu redor.

Numa entrevista, ele com o ar mais natural possível disse:  Isto é prática comum em todos os partidos, referindo-se aos recursos não contabilizados usados para financiar campanhas, o chamado caixa dois.

Assim sendo é apropriado citar Roberto Jefferson que num programa de TV indagou aos seus entrevistadores: Qual é a novidade? Até parece que vocês todos não sabiam disso...

De fato, nada do que veio à tona é novo, então como algo sabido entrementes há muito é capaz de gerar tanto burburinho?

A corrupção pode lubrificar perpetuamente as engrenagens enquanto continuar inaudita, todavia, se assume o poder, deve ser expurgada ferozmente.

A crise é apenas a forma mais clássica de certificar-se de sua fortitude.

O governo sofreu a picada da mosca azul assim que ascendeu ao paço, mostrou-se despreparado para tal mister. Caiu no dito popular de“quem nunca comeu mel, quando come se lambuza.

O poder cega os homens. Tira-lhes a humildade e o senso de medida, os substituindo pela ambição desmedida e pela arrogância dos senhores da verdade.

Tudo se torna aceitável e moralmente justificável. A instrumentalização da política, a luta de bastidores, a alternância das claques, as redes de interesses, o jogo sujo das altas esferas.

A decepção com o governo do PT e com um Congresso em que deputados e senadores ganham para não trabalhar criou um estado de espírito que está levando cada vez mais gente a pregar o voto nulo como forma de protesto e a buscar nas lembranças do passado um país melhor.

Por último Palocci, o escudeiro-mor do presidente, se deu ao luxo de ter uma mansão em Brasília para ratear os proventos oriundos da corrupção. Fato que há muito vinha sendo propagado por um ex-assessor, que sabia das coisas.

Certamente Lula nunca ouviu falar do Rei Salomão que do alto da sua sabedoria, parece ter mandado um recado direto ao presidente do Brasil quando disse: Afastem do Rei os maus conselheiros porque o que torna forte um governo é a justiça (Pv.25:5 Rei Salomão).

A históia se repetiu, a exemplo do pesidente Collor que foi delatado pelo motorista e assim levado a derrocada, o governo Lula sofreu um golpe mortal com a denúcia do caseiro que levou o ministro Palocci ao patíbulo.

Olhamos para trás com saudade e com vergonha do que se vê hoje. A juventude sente saudade de um tempo que não viveu.

O presidente Juscelino desenvolveu o pais e com o progresso crescia entre os brasileiros o orgulho de seus feitos, havia projeto de nação, metas a alcançar. Em suma, acreditava-se no futuro, hoje desacredita-se dele tanto quanto do presente.

E pensar que Lula na sua ambição, no seu sonho de Ícaro, se comparou a Juscelino. Onde foi parar o senso de ridículo?

Os olhos não servem de nada a um cérebro cego (Provérbio Árabe).

* Advogado e Escritor

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