O amor é um cavalo bravo

Jornal O Norte
20/01/2006 às 11:23.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:28

Roberto Drummond

– Pai – disse o filho de 16 anos, que tinha perdido a namorada e estava sofrendo muito – eu não pensava que ia doer tanto, pai. Será que ela volta, pai?

– E se não voltar, meu filho? – foi falando o pai – E se ela não voltar?

– Eu vou ser a pessoa mais infeliz do mundo, pai.

– Mas vai passar, meu filho. Não existe nada que não passe neste mundo.



– Até o amor passa, pai?

– Passa, meu filho – e o pai suspirou.

– Mas eu não quero que o meu amor passe, pai – disse o filho – eu prefiro ficar sofrendo. Mas não quero que passe.

– Como foi mesmo que ela te deixou, meu filho? – perguntou o pai.

– Eu já disse para você, pai.

– Não. Você não disse. Apenas você contou que numa festa ela ficou dançando com outro. Não foi assim, meu filho?

– Foi – confirmou o filho – mas teve uma parte que eu não te contei, pai.

– Que parte, meu filho?

– Ela já estava gostando do outro, o que dançou com ela a noite toda, muito antes da festa, pai – seguiu falando o filho – eu notava pelo jeito dela.

– Pelo jeito, ela parecia estar gostando de outro, meu filho?

– Quinze, pai.

– Ela é muito nova, meu filho. Ela vai mudar muito de namorados, até um dia encontrar o verdadeiro amor.

– E o primeiro amor não é sempre o mais verdadeiro, pai?

– Pode ser e pode não ser, meu filho. Amor é difícil a gente definir. O amor é um cavalo bravo, meu filho. E se você não se segurar firme, você cai do cavalo, meu filho, e se machuca.

- Se o amor pudesse ser tratado como uma doença, não seria amor. Pois o amor é saúde...

– Mas como, pai? Tem jeito da gente não cair do cavalo bravo?

– Tem, meu filho.

– Como, pai?

– Isso, meu filho – falava o pai – não tem jeito de você aprender, como aprende uma lição de matemática ou física.

– Então, o que eu devo fazer para aprender a não cair do cavalo bravo do amor, pai?

– Você vai ter que viver, meu filho. É só vivendo. Se você ler os romances brasileiros e estrangeiros, você pode aprender também, meu filho – e o pai empolgava-se – mas mesmo assim, você terá que viver. Porque ler, ir ao cinema, ir ao teatro, prestar atenção nas letras das músicas, tudo faz parte do ato de viver. Mas existe um detalhes, meu filho. Você vai ter que amar muitas moças para aprender a não cair do cavalo bravo do amor.

– Você acha que eu caí do cavalo bravo do amor, pai? – insistiu o filho de 16 anos.

– Acho que você levou o primeiro tombo, meu filho.

– E vou cair outras vezes, pai?

– Vai, meu filho. Até que um dia você vai adquirir experiência e sabedoria e não cairá mais do cavalo, meu filho.

– Então, pai, eu vou ter que sofrer muito, não vou?

– Vai, meu filho. Vai sofrer muito. Mas o amor vai te dar tantas alegrias, que valerá a pena. Não existe alegria como a que o amor nos dá.

– Devia ter um remédio, pai, para curar a dor do amor, não devia?

– Aí não seria amor, meu filho. Se o amor pudesse ser tratado como uma doença, não seria amor. Pois o amor é saúde, meu filho.

– Mesmo quando a namorada da gente vai embora, pai?

– Mesmo assim, meu filho. Mas agora vamos dormir, porque já são duas horas da madrugada.

– Boa noite, pai – disse o filho.

– Boa noite, meu filho.

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