O amor, a dor e o rio

Jornal O Norte
Publicado em 09/08/2011 às 17:45.Atualizado em 15/11/2021 às 06:02.

Elismar Santos (*)



Um olhar, um sorriso, e ela o seguiu. Saíram sorrateiros, ele na frente; ela um pouco atrás, para não despertar qualquer suspeita. Ele não olhou pra trás, foi andando como se nada daquilo lhe dissesse respeito, foi andando como quem anda tranqüilo por uma rua qualquer. Ela foi trêmula, olhando para os lados, sentindo o coração pulsar mais forte. Foram os dois, um após o outro.



Ele não olhava pra trás, andava como quem nada quer. Na verdade, não queria mesmo. Tentava se desvencilhar dela. Andava de um lado para outro, transava pelas mesas, como se desviasse de carros velozes numa pista de corrida. Ela seguia-o certa de que ele a desejava, de que ele a possuiria e a faria mulher, como antes nenhum outro homem a fizera sentir-se.



Nenhuma palavra. Ele parecia cansado, pensativo; parecia mesmo longe, alheio a todos aqueles acontecimentos. Ela sentia-se cansada, mas não pensava em nada, apenas olhava-o, observava como o seu coração batia forte, tinha vontade de possuí-lo, de deixar-se possuir por aquele homem.



O céu estava estrelado, a lua, toda cheia de amores, observava aqueles dois que timidamente entreolhavam-se deitados sobre a grama verde, escurecida pelo manto da noite, enquanto o rio cantava uma bonita canção de ninar. Ele quase adormecido, pensava no dia de amanhã. Ela, de olhos esbugalhados, não pensava em nada, apenas encostara a cabeça sobre o peito cabeludo do parceiro e ficara ouvindo o pulsar forte do seu coração.



Nenhuma palavra fora dita por ambos naquela noite. Ela adormecera, ele levantou-se devagar para que ela não acordasse. Pensou na família: a mulher e os dois filhos deviam estar preocupados com o seu sumiço. Logo a mulher saberia do que acontecera e o seu casamento estaria acabado. Olhou para a mulher que dormia sonhando fantasias sobre a grama verde, escurecida ainda mais pelo avançar do manto noturno, ela era bonita e tentadora, o fruto proibido ao qual nunca poderia se render. Ele falhara, não seria digno do perdão da esposa e dos filhos.



Ela não acordara. Sonhava fantasias maravilhosas, sonhava com uma vida a dois, ela e ele, ambos numa casinha cercada de árvores altas e verdes, com um rio que passasse bem no fundo da casa e todos os dias de manhã gritasse pelo nome de ambos, para que eles acordassem abençoados pelas suas águas e unidos pelo amor. Ela dormia um sonho gostoso e não vira quando o rio, aquele mesmo que a fizera adormecer, embalara os sonhos eternos do seu amado.



(*) Poeta, escritor e professor - www.elismarsantoss.blogspot.com

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