De há muito venho querendo escrever sobre a razão do meu nome. Isso porque sempre sou inquirido sobre o significado dele. E sempre da mesma forma: - Ita é pedra em tupi-guarani; e o resto?
Aí, tenho que começar do começo. E o começo vem do fato de eu ser de uma família numerosa. Como diriam os matutos, “lá em casa nós somo em 10, mas era em 11”. E eu sou o oitavo. E todos têm o nome iniciado pela letra I (Irani, Itamar, Iolanda, Itajahy, Iracy, Ítalo, Ilacir, Itamaury, Isani e Ivan. Além do falecido Ilmar, o caçula).
Pois bem, tendo sido o oitavo, natural que tenha havido uma certa indefinição, uma certa dificuldade na escolha do nome para aquele novo porteirinhense, nascido em casa, pelas mãos da parteira Dona Caru.
Mas meu pai, criativo como ele só, aproveitando-se do fato de um certo Amaury ter sido a maior estrela do basquete nacional, nos idos de 1954 do século passado, resolveu juntar o Ita, presente na maioria dos filhos, com o Amaury, em homenagem ao cestinha pátrio.
E deu no que deu: um nome estranho, mas que gosto muito. Pelo menos é diferente e faz com que tenha poucos xarás (já os tenho, por incrível que pareça, inclusive em Coração de Jesus) e nenhum problema com homonímia. E isso exige de mim um redobrado esforço para manter o nome limpo, pois não posso debitar a homônimos os eventuais deslizes de caráter e de conduta. Ninguém acreditaria.
Quanto à estranheza do nome, descobri que não sou o único a ter este pensamento. Agora mesmo, tendo me candidatado a uma vaga na Câmara Federal (e ganhado experiência, apenas), fui inserido, na Internet, em uma insólita lista de “nomes estranhos de políticos”. E lá estou num honroso(?) sexto lugar, logo após Aereo, Dilzon, Lerin, Arlen (olha aí, Árlen, você antes de mim!) e Regaço.
E sabe como fomos apresentados pelo gaiato que teve o trabalho de elaborar a lista? Assim: “bom galera, como de vez enquando não tenho nada pra fazer de noite,e com as propagandas politicas, agora, né... tive uma idéia maluca de anotar os nomes estranhos dos politicos que passavam na TV. Era cada nome que até chorava de tanto rir!”
É nisso que dá querer tornar-me um homem público... Faz parte, como diria aquele “Big Brother”.
Mas, o fato de ter um nome estranho tem outras implicações. Poucos o escrevem direito. Outros, nem o lêem direito. No meu caso, até me acostumei com os erros dos meus professores e nem mais ligava. Quando liam a lista de chamada, respondia “presente”, mesmo se me chamassem de Itamaraty (como o Wandaick Wanderley, na Escola Normal de Montes Claros) ou Itanaury (como o Padre Rocha, em Porteirinha). Os colegas é que riam. Eu não, apenas ficava enrubescido, por pura timidez.
Ruim mesmo ficou na minha carteira de estudante do Demc, quando estudava no Colégio São José, em Montes Claros. Lascaram lá Itamaciry. É mole?
Agora Itaumary, Itaumari, Itamari e Itamauri são figuras fáceis. Saem, constantemente, nos jornais de Montes Claros, escrito até por fraternais e antigos amigos no jornalismo.
Por isso, tomei uma decisão. Entrei para uma interessante comunidade no orkut: “ninguém escreve meu nome certo”. Assim, como na fraternidade dos alcoólicos anônimos, vamos nos ajudando a suportar esses pequenos deslizes com nossas marcas registradas.
Noutro sentido, a mais interessante abordagem que me fizeram, com relação ao meu nome, foi há quase 20 anos. Eu era gerente do Banco do Brasil em Montes Claros e um cliente, vendo meu nome numa tabuleta sobre a mesa, indagou-me se eu era parente do Amaury. Retruquei querendo saber que sobrenome o Amaury tinha: Teles ou Oliveira. E o cliente: - Nem um, nem outro. É que ele se chama Amaury e você Itamaury...
Para não constrangê-lo, apenas neguei o parentesco, esforçando-me para não rir. Mas, se fôssemos goianos, estaria ali um bom nome para uma nova dupla caipira...
Itamaury Teles é escritor e jornalista