Dário Teixeira Cotrim (*)
Recordar é viver! Então, necessário agora se faz recordar aquelas tardes de domingo quando o cine-teatro era a nossa única opção de entretenimento. E como era gostoso descobrir os segredos do amor! Namorar às escondidas, sentados no batente de um portão-de-muro onde contemplávamos a cor prateada da face da lua. Ou, nesse caso, andar por aí de mãos dadas, sem destino, sem rumo e sem horário, falando apenas das nossas confidências.
Como poderíamos nos esquecer da Jovem Guarda, movimento chistoso que bolinava as nossas emoções! As músicas dos festivais tinham lá os seus encantos! O livre arbítrio dos hippes emoldurava uma época rebelde em que a força da felicidade consistia somente num sonho de amor e paz! Isso porque a Revolução Militar de 1964 amputava a nossa liberdade de pensamento.
Ai, que saudades que sentimos dos nossos encontros lá no Grêmio Recreativo e Cultural do Colégio Tiradentes! Todas as noites de sábados o pátio do colégio ficava repleto de estudantes para as atividades culturais que terminava sempre com uma hora-dançante muito animada para todos. Também recordar os embalos do rock in rol nas manhãs de domingo, lá na nossa saudosa Boate da Praça de Esportes, que fazem com que a gente retorne ao tempo pretérito revivendo das nossas reminiscências. Era, nesta época dos anos sessentas, a Boate da Praça de Esportes o point da juventude montes-clarense.
Mas, para os jovens namorados, o escurinho do cinema representava-lhes a total liberalidade de amar e, ao mesmo tempo, uma oportunidade impar para as juras de um amor-eterno. Engraçado era driblar a vigilância do lanterninha, e isso sempre acontecia entre risos e beijos. Por outro lado, como era gostoso gostar dos nossos verdes anos! Como era estimulante descobrir o Amor com total divertimento! Pois bem, o escurinho da sala de projeção constituía num ponto de encontro, sem censura e sem pecado, para nós, os jovens namorados.
E foi naquele tempo que eu conheci a minha Júlia...
Tempos esses em que o Cine Teatro Fátima exibia a sinopse do filme Dio Come Ti Amo. Uma película de água-com-açúcar e estrelada por Gigliola Cinquentti e Mark Damon. Mas, ainda assim, ninguém podia negar que nessa sessão de cinema iniciava uma verdadeira história de amor. Era para nós o final feliz do filme Dio Come Ti Amo o começo de uma vida somente a dois. Os personagens agora éramos nós, neófitos coadjuvantes dos mistérios do amor. Haveríamos de ser o Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Shakespeare, no paraíso de Verona, aquele imaginado por Dante Alighieri. E por que não dizer que assim nós éramos dois jovens felizes...
Não sei quantas vezes assistimos ao filme. Mas, lembro-me que o seu enredo nos envolvia numa forte e meiga paixão embevecida de carinhos e medos. Sempre que as nossas mãos se entrelaçavam na mais doce emoção, somente amar de montão seria preciso. Entretanto, sentir-se amado por alguém que a gente ama é alguma coisa de indescritível e muito mais do que necessário. Haveria de existir entre nós a certeza de um querer eterno, haja vista que o respeito sempre foi o pilar de sustentação de uma vida a dois desde aqueles primeiros momentos.
Aliás, isso nos faz lembrar, com saudades, daquelas tardes de domingo no escurinho do Cine Teatro Lafetá, do Cine Teatro Fátima e do Cine São Luiz. Por que esquecer-se desta dádiva divina se era um presente dos deuses? Não, não só me lembro do escurinho do cinema, como também das nossas juras de amor, as que já duram mais de quatro décadas de paixão e de desejos. Concluindo, diríamos que uma história de amor, dos tempos modernos, não é tanto influenciada pela força do tempo que há de vir quanto pela experiência de um passado renovador. Portanto: viva o Amor!
(*) Escritor, presidente do IHGMC