Discurso proferido na câmara municipal de Montes Claros por ocasião do recebimento do título de cidadão benemérito por parte do jornalista Nestor Santana:
- Senhoras, senhores, meus amigos conterrâneos de Montes Claros,
Foi na segunda metade da década de 60 que conheci Montes Claros. Vim de trem, para cantar na cidade mais musical de Minas. O Coral do Minas Tênis Clube, do qual eu participava, tendo como companheiros de canto os montes-clarenses Gilber Rocha e Stela Guedes, veio a convite do Conservatório Lorenzo Fernandez, apresentar-se na Catedral de Nossa Senhora Aparecida, O Coral passou, mas as boas amizades e as lembranças felizes ficaram. Gilner, com quem dividi espaço numa república em Belo Horizonte, e que fez, no seu violão bem executado, o acompanhamento da liturgia do meu casamento, há quase 35 anos, permanece amigo e companheiro.
Costumo dizer que as Vales me trouxeram a Montes Claros. Na primeira vez, serpenteando o sertão de Guimarães, no Vale do Rio das Velhas e nas veredas batizadas pelo Espinhaço, o Trem do Sertão, ou Trem Baiano, como o povo da região chamava a composição ferroviária que partia de Belo Horizonte, passada por Montes Claros e subia até Monte Azul, me trouxe até aqui. Anos se passaram e outro Vale, no primeiro ano da década de noventa, me ofereceu o privilégio de retornar a esta cidade, desta vez em definitivo.
Falo da Vallée, que e, francês significa Vale. Abençoado retorno: é nos vales que brotam as nascentes, que germinam o verde, que amadurecem frutos para o alimento e a permanência de vida saudável e produtiva.
Vim a convite do amigo Ronan de Freitas Pereira, presidente da empresa, tentar somar no grande trabalho das suas relações institucionais, que inclui, prioritariamente, o melhor convívio com a comunidade. Nesse particular me foi dada a incumbência fez das articulações com todos os segmentos representativos da coletividade, onde descobri pessoas e valores culturais que muito acrescentaram à minha condição profissional e pessoal.
No meio de entidades e agremiações do porte da Unimontes, do Conservatório, da TV Grande Minas e outros importantes veículos de comunicação, da Sociedade rural, de representações empresariais como a Fiemg, a ACI, CDIs, os sindicatos das diversas categorias profissionais, das unidades da administração pública e de representação política com as quais a Vallée se articula e interage, encontrei, em todos esses espaços, interlocuções inteligentes, amenas e continentes de um jeito ímpar de falar, sentir, vibrar, tocar e cantar.
Nesse contexto, as manifestações artísticas e culturais, à parte, balançaram minha sensibilidade de músico e produtor, especialmente após o contato com 3 jovens estudantes talentosos que compunham o Grupo Instrumental Trem Brasil – Luís Ricardo, Jean Joubert e Luciano Cândido – que ganharam o mundo e hoje são Doutor e Mestres, pós-graduados pela Universidade da Bahia e reconhecidos professores da Unimontes e da Universidade da Paraíba. Mais que amigos, tornaram-se cúmplices regionais, desses com que se aprende a cantilena do sertão, a coragem, o encantamento e a simplicidade do ser catrumano.
Nas relações da profissão de jornalista e comunicador, descobri grandes personalidades, entre as quais ficou a saudade do parceiro Heitor Nogueira, capixaba que se envolveu no aconchego sertanejo e falou a linguagem da vertente, jovens amigos do contexto acadêmico passaram pelo convívio profissional e hoje compõem o painel variado e feliz dos bons afetos que aqui construí, e entre eles estão Rafael Gontijo, Luciano Lopes, Juli Castro, Ivan Gonçalves e tantos companheiros amigos que a Vallée me proporcionou.
Nosso mosaico de figuras caras que desenham minha presença montes-clarense, volto à minha terra natal, Teófilo Otoni, e rememoro a juventude na companhia de Itagiba Castro, que migrou para estas plagas e aqui construiu família e vida. Penso numa conquista recente, numa convergência gratíssima, na qual somamos nossas experiências e intenções nas causas da cultura. Falo de João Rodrigues, artista plástico valoroso que, circunstancialmente, em situação equivalente à que me liga hoje à rádio Inconfidência, compõe a oficialidade, emprestando sua inteligência e seu desprendimento para a fé nas manifestações das raízes profundas deste universo dos Gerais. O projeto 4 Cantos e seus talentos consagraram nossa aproximação.
Estou especialmente feliz. Feliz, emocionado e gratificado. Grato aos que me acolheram e me cederam espaço e mobilidade de ação profissional. Grato aos que intuíram que no profissional residia também um amigo comprometido com os valores e as verdades daqui. Grato à Vallée, ao Ronan, a José Augusto, aos demais membros da diretoria da empresa e aos colegas colaboradores, sempre generosos e prontos a apoiar os que chegam com o propósito de ajudar a construir. Grato a esta egrégia casa e ao seus membro, especialmente ao presidente Sebastião Ildeu Maia e ao vereador Coriolando da Soledade Ribeiro Afonso, Cori, autor da proposta que converteu-se na Resolução nº 73, de 05 de setembro de 2006, conferindo-me a honra de ostentar o privilégio de ser um montes-clarense.
É meu compromisso, senhor presidente, senhores vereadores, autoridades, personalidades, minha mulher e amigos que me prestigiam com sua presença, cumprir com esta condição de cidadão, com a convicção, o respeito às tradições e a f[e de um catopê do Mestre Zanza ou João Farias. Cidadão com o lirismo dos que entoam o Amo-te muito de João Chaves. Cidadão com a resistência e a bravura evidenciadas em O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro. Cidadão que provou, gostou e se delicia, no tempo certo, com o cheiro e o sabor do pequi.
Sou, com muito orgulho, um cidadão de Montes Claros.
Muito obrigado.
Nestor Santana