Não vou ao psiquiatra de jeito nenhum!

Jornal O Norte
15/07/2009 às 10:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:04

Mara Narciso


Médica e acadêmica do curso de Jornalismo

O médico psiquiatra Dr. Renato Miranda ficava muito irritado quando algum clínico telefonava pedindo-lhe uma dica de remédio para clientes que apresentavam alteração de comportamento. Provocava o colega sugerindo que fizesse uma residência médica em psiquiatria, como ele mesmo já tinha feito. Outras vezes lamentava ver pessoas com seus quadros mentais agravados por condutas inadequadas, muitas vezes tratadas por médicos clínicos ou neurologistas. Não que eles não possam entender do assunto, até podem, mas é que geralmente não entendem.

Tenho ouvido na Rádio Unimontes um comercial da Clínica Prosseguir, do médico psiquiatra Dr. Klênio Rocha. Ele alerta sobre a necessidade de um diagnóstico e tratamento psiquiátrico bem feitos para que a vida não seja interrompida. E está certo.

Gente omite males, como também cirurgias estéticas. Entre as moléstias escondidas estão as doenças da alma, dos sentimentos e dos pensamentos. Doença orgânica é ruim ter, mas não é imperativo esconder, mas as doenças da emoção, estas sim, deverão estar acobertadas pelo anonimato da consulta com clínicos ou afins, mas não de um psiquiatra. Caso sejam “pilhados” saindo de um consultório desses, muitos não sabem onde colocar os olhos.

Quando começa uma dor, ou uma febre nós as tratamos logo, além de ficarmos alertas para que não se tornem graves e incontroláveis. Quando uma criancinha está com febre, ninguém pensa em deixar a febre subir até causar uma convulsão para medicá-la. As doenças recentes são geralmente reversíveis, isso é senso comum. Por que não as doenças psiquiátricas? Essa visão vem mudando pouco a pouco, mas persiste o medo da opinião alheia, e o fato, algumas vezes concreto, do quanto aquele histórico poderá prejudicar a pessoa profissionalmente.

As doenças do sono, e do comportamento são mais bem tratadas pelos psiquiatras. Assim como os vícios em drogas lícitas e ilícitas. Mas aqui há o preconceito como complicador. Quando escrevi o livro “Segurando a Hiperatividade”, onde abordo a vida do meu filho portador do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH-, a intenção era reduzir o preconceito contra o problema. Falaram que eu o estava expondo. Meu filho já era adulto, e acompanhou a feitura do livro. Para ele foi bom, pois dei um nome para a doença dele: hiperatividade. Muitos se beneficiaram dessa declaração, e ainda hoje comemoram comigo esse fato.

Por sugestão da minha cardiologista, faço psicoterapia com psiquiatra, e o meu filho também vai à psicóloga. Vamos e podemos contar. Quantos conseguem fazer isso? A população acha vergonhoso tratar da mente, da alma, ou de qualquer outro nome que queiram dar a esse compartimento do ser humano. O fato é que há melhoria na qualidade de vida, pelo tratamento psiquiátrico, então, não hesito em indicá-lo. Está melhorando a visão geral, mas é comum a pessoa cujo tratamento foi sugerido, falar quase aos gritos: “Não vou ao psiquiatra de jeito nenhum! Eu não estou louco!”. No que eu completo: Vá e se trate logo, para não ficar. Assim como as outras doenças, também essas podem se agravar com o tempo.

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