Não pensaram nisso - por Aderbal Esteves

Jornal O Norte
Publicado em 18/07/2008 às 10:10.Atualizado em 15/11/2021 às 07:38.

Aderbal Esteves



Apesar dos escândalos, já esquecidos, não se pode deixar de reconhecer o poder de fogo dos extraordinários marqueteiros Duda Mendonça e Marcos Valério, na condução da opinião popular para eleições de cargos de destaques, tampouco, aqueles que venceram as eleições sem lançar mãos destes. Não é somente sorte, tampouco idéias, condições financeiras, mas todo um conjunto capaz de levar o candidato ao poder, às alturas do sucesso. Instalado no poder, a situação é diversa, não se trata mais de alcançá-lo, mas de pelo menos mantê-lo, já que por vários outros motivos, não é possível perpetuá-lo. Não se trata de descrição do presente, mas com o crescimento urbano vieram com eles os problemas sociais para Roma, muito desemprego na zona rural e essa massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida. Receoso do que pudesse acontecer através de alguma revolta, o imperador naquela época criou a política do Pão e Circo, passando a oferecer aos romanos alimentação e diversão. Nos estádios, ocorriam lutas de gladiadores, onde eram distribuídos alimentos.



Se a política do pão e circo é utilizada até hoje, porque em países como o Brasil, os seus problemas não acabaram, cujo pão e o combate da fome é atenuado através das várias bolsas distribuídas pelo Governo, o circo ainda é imprescindível, não para demonstração de força e selvageria lançando nos estádios gladiadores e cristãos para serem devorados pelos leões. Mas, principalmente, como forma de humanizar as cidades, evitando a violência, desviando a juventude das drogas, oportunizando à população um pouco de cultura.



Em que pese a sensibilidade do nosso ministro da Cultura, Gilberto Gil, sem perder sua baianidade, seu semblante de artista, sua sensibilidade capaz de compor músicas belíssimas como “Grão”, não pensou até hoje em semear cultura pelo solo pátrio de modo eficaz. Com a tecnologia de nossos dias, a possibilidade de distribuir telões e aparelhos de DVD, não custaria muito, bem menos que o desperdício e desvios em outros escalões do Governo para, respeitando direitos autorais, fazer com que peças de teatro encenadas nas capitais, concertos, espetáculos de balé fossem gravadas e difundidas pelo País afora, nas praças, nas conchas acústicas, nas escolas. Divulgação de projetos como a do “Teatro em sua casa”(Globo Vídeo), quando lançou a peça Sete Minutos, com Antônio Fagundes e direção de Bibi Ferreira,ou mesmo, como a mais recente peça humorística “Terça Insana”, de um espetáculo em São Paulo, lançado pela Trama.



Se, dizem ser este “um país de todos” e não de tolos, a cultura também deveria fazer parte da vida dos brasileiros, que não fosse somente a luta no dia a dia para pagar as intermináveis contas, deste simplório “Zé” que ainda carrega o nome “Da Silva”, mesmo sem ser presidente,diretor de banco, eterno suspeito e prestes a se submeter a um teste de bafômetro pelo seu hálito indesejável, misturado com o cheiro da fome, o frio pela sua roupa rota, lançado ainda ao Leão, como que num Coliseu.



O país poderia ser bem melhor, se com a instrumentária do mundo financeiro que preside nossos dias, houvesse espaço para divulgar a cultura por todo o seu solo, humanizando cada vez mais nossa gente. Como dizia Carlitos “a vida é uma peça de teatro que não admite ensaios.” Pena, não pensaram nisso.

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