Rodrigo de Paula
A psicologia da comunicação refere-se à expressão “meio” como um conjunto de influências e estímulos ambientais que alteram os padrões de comportamento de um indivíduo. Portanto, entendemos que o conceito (além da referência óbvia à ecologia) diz respeito ao ambiente ou grupo social em que o homem se relaciona e interage. Com base nesta afirmação, refiro-me aos que tornaram realidade o sonho de fazer música e criar um cenário de expressões variadas nesse “ambiente musical” chamado Montes Claros.
Devido à herança cultural, que com o passar dos anos escreve na história um novo capítulo de talentos, as composições retratam as experiências e vivências da nossa gente. Não é fácil reunir pessoas com o mesmo objetivo e, principalmente, dispostas a enfrentar os desafios impostos a quem deseja sair do anonimato. Uma das grandes dificuldades é a falta de incentivo, de estrutura e equipamentos.
Não se rendendo a estes empecilhos, os músicos transformam as garagens de suas casas em locais de ensaio e, por muitas vezes, palco de apresentações. É interessante perceber os esforços para transformar sonho em realidade influenciarem a “autoria musical” presente em canções populares, de protesto ou emocionais.
É costume dos artistas, frustrados por não conseguirem um respaldo da mídia ou não alcançarem a tão sonhada “fama”, prenderem-se à afirmação de que “a cidade não valoriza os artistas da terra”. Porém, proponho uma análise pessoal dessa crença melancólica: quando um artista se propõe a fazer música, essa escolha não implica em ser bem sucedido financeiramente ou ser reconhecido nas ruas da cidade. É uma gratificação profunda e individual, em que o “reconhecimento midiático” não representa o valor verdadeiro da escolha.
Este desejo de fazer música, movimentar multidões e criar cultura é uma característica presente no povo de Montes Claros - e sempre passada de geração em geração. Muitas vezes, surge pela vontade de reproduzir (e homenagear) o trabalho dos ídolos, sejam artistas locais, nacionais ou internacionais. A música toca as pessoas e faz aflorar vários sentimentos, cria referências, sugere opiniões e alimenta a vaidade.
Em nossa cidade, temos como exemplo a naturalidade local de vários músicos consagrados. Na década de 1930, Godofredo Guedes, mesmo sendo natural da Bahia, apresentou seus chorinhos em Montes Claros e conseguiu ser reconhecido pelo mundo afora. Talvez por hereditariedade, seu filho Beto Guedes, na década de 1960, compôs várias músicas de “rock progressivo”, que apresentavam nas letras a bagagem cultural e regional de seu povo.
Mas não são somente artistas de respaldo internacional que devemos valorizar. Aqui também existiram e existem músicos (talvez não muito conhecidos) que, através da escolha da música como ofício, fizeram história e fortaleceram nossas raízes – caso de Zé Coco do Riachão, Marimbondo Chapéu, Elthomar Santoro, Jorge Takahashi.
É incontestável a necessidade de um maior apoio por parte dos “responsáveis pelas questões artísticas da cidade”, porém é imprescindível que os artistas tenham a consciência de que é preciso se organizar e discutir propostas concretas para uma melhorar o seu “trabalho cultural”. Festivais, encontros musicais e oficinas podem ser um bom começo.
Em entrevista publicada, em setembro de 2004, pelo jornal-laboratório VIDE VERSO, o professor de piano do Conservatório Lorenzo Fernandes, e docente do departamento de Artes da Unimontes, Flávio Augusto sugere uma análise do desenvolvimento da musicalidade e aptidões instrumentais da população, com base no modelo europeu – e discute as dificuldades enfrentadas por nossa sociedade em aderir a esse sistema.
“Achava uma idéia louca querer implantar qualquer projeto do exterior no Brasil pelo fato de que a cultura familiar no exterior tem a tradição do estudo e da prática musical; em cada casa, havia pelo menos três instrumentos – isso numa família de classe média baixa. O que no Brasil não existe devido às condições sócio-econômicas. Aqui, estudar música, é tirar leite de pedra”, comenta Flávio.
A população de Montes Claros talvez não saiba que a cidade pode se “gabar” de sediar um dos melhores conservatórios de música de Minas Gerais, onde os ensinamentos são totalmente gratuitos e há professores preparados e experientes. É preciso entender que os músicos de nossa terra, além de artistas, são cidadãos com um papel a desempenha: esse papel, com ou sem fama e sucesso, fundamenta-se em desenvolver uma “jornada” de aprendizado e ensinamento que contribua para o verdadeiro entendimento das “metamorfoses” de nossa cultura e nossa história.
Este texto faz parte da página produzida pelos acadêmicos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte
Editores: Ana Gabriela Ribeiro e Elpidio Rocha
Coordenador do curso: Ailton Rocha Araújo
Coordenadora de produção: Tatiana Murta