Neumar Rodrigues *
No Gênesis está escrito que Deus criou o homem a sua imagem. E depois disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe seja semelhante” Pelo que se pode deduzir do texto, a mulher, mesmo sendo semelhante, foi feita para auxiliar o homem. A igreja católica até hoje tem apenas homens nos seus quadros hierárquicos. Padres, bispos, cardeais...não se consegue imaginar um desses cargos desempenhados por uma mulher.
Nas organizações das primeiras comunidades humanas, as tarefas necessitavam ser bem definidas, uma vez que as ameaças externas eram grandes. Para a mulher lhe tocava por imposição da natureza a maternidade, o que, aliás, continua sendo assim até hoje. Como conseqüência, necessitava passar mais tempo em casa para cuidar dos filhos. Aos homens, além de fecundar as mulheres, lhes cabia a caça e a defesa de seu grupo contra as ameaças. O papel desempenhado pela mulher e pelo homem lhes permitiu desenvolver algumas características que eram importantes e tinham suas vantagens.
As mulheres foram aprimorando sentimentos relacionados com a maternidade, enquanto os homens características de força, brutalidade e agilidade. Com isso, a mulher foi incorporando ao seu repertório de comportamento traços relacionados com carinho, afeto, sensibilidade e amor, enquanto os homens preocupados com a defesa e sobrevivência do grupo desenvolviam músculos.
A força e o ódio os ajudavam na defesa da comunidade. Claro que essas funções não eram rígidas e se intercambiavam, porém, era essa a organização básica.
Essa forma de funcionar do grupo, onde o homem saía para caçar e a mulher ficava cuidando dos filhos, trouxe algumas vantagens ao primeiro relacionadas à independência e liberdade, porém, o empobreceu em relação à afetividade, sensibilidade, carinho e amor. Isso dito com outras palavras, o homem teve algumas vantagens relacionadas com as atividades de trabalho, porém, ficou um tanto empobrecido no que se relaciona ao afetivo.
Os tempos passaram e a humanidade se desenvolveu em diversas direções. Surgiram casas melhores e mais confortáveis, cidades e organizações mais complexas.
Os inimigos naturais foram dominados. Os homens não necessitavam mais caçar para sobreviver. Surgiram a agricultura e os trabalhos dentro da própria comunidade. As cidades foram crescendo. Com a revolução industrial, os homens puderam manter sua família trabalhando nas fábricas. Nas últimas décadas, as mulheres, ainda que em menor escala que os homens, começaram a participar fora do contexto familiar com seu trabalho para a manutenção da família.
Ainda que tenha começado a dividir suas atividades entre os assuntos domésticos e o trabalho fora, a mulher, devido à maternidade, manteve até os dias de hoje suas características afetivas. Já os homens não necessitam mais da força e brutalidade para enfrentar os inimigos naturais e o tipo de trabalho que exerce raramente exige um corpo avantajado. Com isso, os traços afetivos desenvolvidos pela mulher não necessitaram ser mudados com a nova realidade, mas para os homens sim. Porém, não foi o que aconteceu. Os homens mantiveram algumas características relacionadas com competitividade, tais como baixo nível de sensibilidade, força, domínio, poder e os exercem não somente em suas atividades profissionais, como também em sua vida afetiva.
Com a aprendizagem de novas tarefas de trabalho fora de casa, a mulher se enriqueceu em suas características, ou seja, manteve seus traços de afeto, amor e sensibilidade e ao mesmo tempo desenvolveu também traços de competitividade e competência relacionados com as novas tarefas. O trabalho remunerado agora é compartilhado. O oposto, porém, quase nunca ocorre, ou seja, o homem não passou a compartilhar dos afazeres domésticos como forma de contrabalançar o auxílio que sua companheira lhe dá no trabalho externo. Com isso a mulher absorve mais uma jornada de trabalho, sobrecarregando a si mesma e dificultando o desempenho de suas atividades de mãe.
* Jornalista