Mudança de rota

Jornal O Norte
Publicado em 12/03/2008 às 10:17.Atualizado em 15/11/2021 às 07:27.

Robson Braga de Andrade


Presidente da Fiemg



Depois de enfrentar e superar gargalos que impediam a economia de crescer, o Brasil corre o sério risco de morrer na praia e não conseguir entrar em um ciclo de crescimento sustentado. E isso pode ocorrer, infelizmente, por falta de energia. A boa notícia é que o país ainda tem tempo de evitar o pior.



Hoje, o país conta com apenas duas possibilidades para garantir a ampliação do volume de energia disponível: mais geração e a melhoria dos níveis de conservação. Quanto à geração, não basta concentrar-nos nos investimentos já anunciados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que têm longo tempo de maturação e enfrentam dificuldades por conta das exigências ambientais.



Especialistas nos advertem que para crescer ao ritmo de 5% ao ano é indispensável acrescentar de 8 mil a 10 mil megawatts de capacidade instalada a cada ano. Para isso, o Brasil deve fazer valer sua vocação hídrica na produção de energia elétrica, desatando os nós que ainda impedem a concretização de grandes projetos. Além de intensificar o processo de diversificação de sua matriz energética, investindo na biomassa, no gás natural, na energia nuclear, no carvão mineral e nas PCHs.



A conservação se apresenta como uma alternativa barata e viável, com importante potencial para elevar o nível de oferta. A estimativa é que o índice de perdas elétricas do Brasil seja de 16%. Na Europa, esse número não passa de 6,5% e de 8% nos Estados Unidos.



Nesse sentido, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) desenvolveu o planejamento de um Programa Integrado de Eficiência Energética no Sistema Industrial e Elétrico. A proposta é fundamentada na maior integração dos atores envolvidos no processo, utilizando ainda instrumentos como a modernização de máquinas, equipamentos, produtos e processos, e componentes da cadeia de energia, além do incentivo à inovação. A lógica desse esforço é clara: de acordo com o estudo da Fiemg, o Brasil tem um potencial de conservação de 29.700 GWh, o que representa 7,6% do consumo nacional de eletricidade e se traduziria em uma economia de R$ 3,8 bilhões para os consumidores.



Um dos focos prioritários é o setor industrial, em razão de seu nível de consumo. A Fiemg propõe o estabelecimento de uma linha de crédito diferenciada do BNDES para investimentos geradores de eficiência energética, como a substituição de equipamentos e processos produtivos obsoletos e o desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica.



Outro ponto importante é a ação direta junto às cerca de 60 concessionárias de distribuição do País, cujos índices de eficiência oferecem grande potencial de melhoria. Nós sugerimos ao Governo Federal a utilização de recursos do Programa de Eficiência Energética da Aneel para financiar a substituição e certificação de transformadores, uma das maiores fontes de perda, e para melhoria da qualidade das redes públicas de iluminação.



O programa já foi entregue às autoridades do Governo Federal e pode ser o ponto de partida para a efetiva melhoria de nossos índices de eficiência.  Uma mudança nessa área seguramente nos ajudará a encontrar o rumo que evite o “apagão” e permita ao País manter-se em sua trajetória de crescimento e desenvolvimento.

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