Manoel Hygino
Mendigos, prostitutas e índios continuam perseguidos por brasileiros, que os assassinam, e, o que parece mais grave, são jovens. Exatamente os que deveriam armar-se da sagrada chama de solidariedade, do amor ao próximo, de respeito aos direitos humanos.
Dispenso-me de aprofundamento em casos específicos. Todos eles demonstram o horripilante na conduta humana, num país possivelmente não mais abençoado por Deus. Porque Deus, sem dúvida, não abonaria o trucidamento de pessoas que já vivem à margem da sociedade ou carentes de proteção social.
Por que matar? Por que matar esses indivíduos que, mais do que os demais seres humanos, necessitam de compreensão e carinho? Mendigos são mortos em São Paulo, no Rio de Janeiro, em outras capitais e regiões. Basta compulsar as páginas dos jornais ou recorrer a reportagens transmitidas pela televisão.
Na antiga capital federal, uma doméstica foi torturada por rapazes de boa família e boa renda, simplesmente porque suspeitaram ser prostituta. Como se estas fossem a eterna caixa de pancadas dos brutos.
E os índios? Não bastam os muitos milhares de milhares que perderam a vida na colonização? Colonizar se tornara símbolo de escravizar, submeter à força, assassinar. Em pleno século 21, os silvícolas seguem alvo dos “civilizados”.
Houve o índio Galdino, que foi vítima de uma barbariedade, quando moços de boa sociedade, estudantes de nível superior, lhe atiraram gasolina e, em seguida, atearam fogo. Que educação, que tipo de formação receberam esses rapazes no lar e nos bancos escolares?
Crimes hediondos em três grandes metrópoles brasileiras: a capital nacional, a antiga metrópole na Monarquia e na República, na maior cidade da América Latina. Que tenebroso desígnio impele estes jovens a tão brutais atitudes e ações?
No Norte de Minas, em meados de setembro, três jovens foram presos sob acusação de espancar até a morte um Xacriabá, em Miravânia. Os criminosos, em depoimentos à polícia, declararam que não tinham propósito de matá-lo, mas apenas fazer uma brincadeira.
Idades: 18 anos; mais um de 15, outro de 16. Numa quermesse, o índio encostou em um deles involuntariamente, sem intenção de incomodar. Então, começou a brincadeira letal. Tiraram-lhe a roupa. Sentindo-se humilhado, o indígena reagiu. Os rapazes, saídos da festa, bêbados, sem conhecimento da verdadeira extensão do ato que praticaram, promoveram verdadeiro festival de tortura, até que Avelino falecesse.
O delegado autuou os assassinos por homicídio qualificado, por motivo fútil. Os parentes da vítima devem ter chorado e dançado, em seus rituais. O inquérito será rigoroso. Mas um índio a mais morreu sem justificativa.
Desta vez, ao que tudo leva a crer, não foram as drogas que induziram ao assassinato. Por enquanto, parece. Mas álcool também é droga e há depoimentos de testemunhas de que os três autores do crime estavam embriagados.
Na distante Miravânia, os problemas não deverão aprofundar-se. As reações dos peles vermelhas se reduzem praticamente aos velhos filmes de faroeste, como as notáveis películas de John Ford.
Por aqui, ficarão ossos, cinzas, lágrimas, vontade de revidar. Não há perspectiva de violência indiscriminada como na época do intrépido general Custer, ou as que ocorrem com os crimes por droga na periferia das grandes cidades brasileiras. Até Belo Horizonte.
* Jornalista e escritor
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