Dário Teixeira Cotrim *
Morreu o coronel-senador, Antônio Carlos Magalhães, um dos últimos coronéis da política baiana, quiçá da brasileira. Não era por assim dizer um político corrupto, pois não há nenhum processo contra a sua idoneidade moral em curso, mas era um político arrogante, presunçoso, um homem forte, destemido e impetuoso que não aceitava nenhum tipo de promiscuidade contra a sua pessoa e nem mesmo contra os seus familiares. Defendia os interesses baianos com unhas e dentes e não aceitava a intromissão de estranhos na vida pública e privada do seu Estado. Todavia, isso de arrogante não o contribuiu para empanar o brilho de sua vida pública. Havia nele inúmeras virtudes além do amor que nutria pelas coisas da Bahia.
Como um homem publicamente político eu jamais o admirei, exceto nos momentos em que ele usava a tribuna no Senado Federal para combater a corrupção desenfreada do governo Lula. Confesso, até com certa ironia, que repudiava a maneira com que ele comandava a política baiana. Um verdadeiro coronel e por isso ele era sempre combatido pelos seus adversários mais ferrenhos. Mas, por outro lado, era um combatente justo o que impressionava a todos os seus correligionários de oposição ao governo do presidente Lula. Afirmamos também que foi o coronel-senador ACM um exemplo brilhante de dignidade humana e por isso o povo baiano hoje lhe reverencia o nome com total altivez.
Na Bahia, o coronel-senador ACM foi reconhecidamente tratado como um ‘homem-deus’. Na minha querida Guanambi, por exemplo, não só a minha família, mas também a quase totalidade da população o tinha como sendo o Salvador da Pátria. Justiça seja feita, ACM amava a Bahia acima de qualquer suspeita. Ele trabalhou incessantemente para o bem estar da população mais necessitada do sertão baiano. Contudo, contabilizou para si inúmeros inimigos políticos, quando deveriam ser apenas os seus adversários de partido. Hoje o nome do coronel-senador ACM merece figurar entre os daqueles que mais contribuíram em favor do crescimento econômico da Bahia.
Mas, todos os impérios são esfacelados com o tempo. A ruína do coronel-senador ACM iniciava-se com a morte súbita de seu ilustre filho, o saudoso deputado federal Luis Eduardo Magalhães e, agravou-se com a inacreditável eleição do petista Jacques Wagner para o governo do Estado e, finalmente, sucumbir-se com a sua morte. Mesmo não nutrindo nenhuma simpatia pelo homem político, é salutar dizer que nós o admirávamos como um estadista eminente, não só pela flama de suas palavras e as gamas de seu talento, mas pela sua ousadia, pela sua coragem e pela sua determinação de combater o bom combate. O coronel-senador ACM alçou os mais elevados postos na vida política nacional.
Morre o homem e fica a fama... A fama de arrogante e de malvado. Uma arrogância sem controle e uma malvadeza sem limites. Passa-se, então, para os anais da história o depreciado epíteto de Toninho-malvadeza. No entanto, o maior erro do coronel-senador ACM ocorreu exatamente no ano de 2000, quando inexplicavelmente ele participou da violação do painel eletrônico do Senado, revelando aos seus pares como votaram os outros senadores na cassação do então senador Luiz Esteves. Acusado por quebra de decoro parlamentar renunciou ao cargo de senador para depois retornar a casa nos braços do povo. Os processos por desvio do dinheiro público foram todos arquivados pelo Supremo Tribunal Federal. Isso ocasionou uma irritação não civilizada aos petistas que à época eram liderados pelo senador Tião Vianna. Foi apresentado requerimento à mesa do Senado pelo PT solicitando-a a extinção do Conselho de Ética do Senado.
Tudo que já foi escrito, a favor e/ou contra o coronel-senador ACM, não chega a dar a medida exata do seu grande trabalho em prol do Estado da Bahia. A história sobre a trajetória de ACM merece agora uma análise mais profunda. Tudo em vista de ter sido um homem odiado e ao mesmo tempo amado pelo povo brasileiro. A Bahia está de luto!
* Membro dos Instituto histórico e geográfico de Minas Gerais e de Montes Claros