Montes Claros retratos poéticos

Jornal O Norte
Publicado em 24/04/2008 às 09:26.Atualizado em 15/11/2021 às 07:31.

Wanderlino Arruda


Do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


  


Recebi, feliz e encantado, o convite das minhas amigas Ângela Martins Ferreira e Karla Celene Campos para este prefácio de Montes Claros – Retratos poéticos. Louvados sejam versos e imagens, abençoadas as idéias de união foto-poesia, mil louvores a esta cidade da arte e da cultura. Agora sim, o canto é colorido, cores e formas se enriquecem em escultura viva, o espaço-tempo é mais do que poético. Merecido amor!



Representação do real, elemento afetivo em Maurois, a arte ganha novo prisma com Malraux: não é nem representação nem enquadramento, pois nasce da fascinação, do inapreensível e até da não-cópia das formas do mundo. A arte é, acima de tudo, uma necessidade de criação, muitos de nós, graças a Deus, a ela sujeitos. Frementes de utopias, só nos sentimos completos com a encenação romântica de nossos sonhos. Alimentamos-nos sempre do contemplativo, seja gratificando nossos sentidos, seja musicalizando infinitudes, comportamentos que só a alma pode entender: eterna busca, catarse.



Ângela Martins é mestra do encontrar perspectivas, do olhar, do ver e do sentir. Sabe, como ninguém, eternizar essências e vivências e fixar a viagem da luz por multifacetados movimentos na realidade e na arte. Sua câmera é ou parece ser, em tempo integral, inteligência e emoção, instrumentos de otimismo e fé, seja nas pessoas, seja nas coisas. Cada clique seu é fenômeno de belezas, movimento, registro e impressão de nuances que despertam gosto e cheiro de eternidades. ÂnZgela, ao mesmo tempo fotógrafa e pintora, sabe usar o talento que Deus lhe deu com o máximo de engenho e arte. Por seu trabalho, Montes Claros e nossa região, assim como presente e futuro, muito terão que agradecer. Suas fotos constituem e constituirão o mais legítimo e romântico marcar de lugares e coisas ligados ao nosso coração. Elas farão parte da nossa pertença, da nossa intimidade com a terra e a vida norte-mineiras. Com elas será eterno o amarelo sertanejo do nosso pequi, serão eternas as multicores das fitas das festas de agosto, perfume inconfundível de bem temperada memória.



Karla Celene, especialista no ensino de português e espanhol, doutora na tecelagem de sonhos, representa o que temos de mais legítimo em poesia e prosa , sempre equilíbrio e coesão nos textos. Seus escritos marcam e demarcam momentos de tessitura perfeita, forma e fundo em respeitoso convívio com a gramática e a música dos significados. Cada verso de Karla é como uma flor que desabrocha,  brisa que conforta, um café quentinho que nos desperta para o viver completo. Seiva e fruto, laço de triunfo, finitude de lição bem ritmada, olhar que louva e registra. Os versos de Karla em Montes Claros – Retratos poéticos são respiradouros para a imensidão do mundo, ciranda com sina de multiplicar existências, água corrente para lavar as pressas da vida e do amor. Contidos, precisos, sonoramente vivos, sugerem perspectivas de sons e de cores, em multidão de acalantos. “Louvado seja o olhar que da janela espreita”, porque bem-aventurados o fruto do ventre e os frutos da terra. “Água corrente é feito a vida da gente. Água lava, água leva”.



Temos que dar graças a Deus por estas duas meninas existirem. Uma dádiva à nossa terra, ao nosso povo, a corações e inteligências dos vívidos montes claros. Espaços, perspectivas, formas, cores, tudo muito lindo, tudo legendado por versos de pura poesia, um reconhecimento de majestade e beleza transcendentes. Louvável mescla de riqueza e talento, manifestação espiritual de quem sabe o valor do otimismo, destino e vida para elas mesmas e para todos que sabem e querem amar.



Montes Claros – Retratos poéticos chega num importante momento da nossa história, quando o sesquicentenário marca presença com um lindo halo de entusiasmo, em luminosidade nunca antes vivida e sentida. É uma realização gráfica do maior capricho, para contemplação e leitura em momentos de calma, como se estivéssemos em verdejante vale, divinamente batizado por águas de purificação.



Parabéns, garotas; parabéns, Ângela e Karla.  Montes Claros e o Norte de Minas, conscientes e protocolares, muito lhes agradecem.

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