Montes Claros e a Sudene

Jornal O Norte
Publicado em 05/03/2009 às 09:39.Atualizado em 15/11/2021 às 06:52.

Marcelo Valmor


Professor



O professor Laurindo Mékie Pereira, da Unimontes, tem uma preocupação intensa com os rumos da nossa região, e por isso mesmo tem dedicado toda a sua vida acadêmica a pesquisar uma das instituições que mais tem provocado impacto de toda ordem em nossa cidade. Estamos falando da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-Sudene.



O seu livro “A Cidade do Favor” e o seu projeto de doutorado apresentado a Universidade de São Paulo-USP, anos atrás (hoje com doutorado concluído), dão bem a medida da relação dos nossos políticos nos anos de 1950 com o governo federal.



Evidentemente que um é a continuação do outro, e os dois juntos poderiam ser resumidos da seguinte forma.



A ascensão de Juscelino Kubstchek ao cargo de Presidente da República em 1956 coloca, mais do que em evidência, o Vale do Jequitinhonha e o Norte de Minas Gerais. Mais o vale, claro, já que JK era de Diamantina. Mas a nossa elite tratou, ela mesma, de lhe conferir um ar quase baiano na expectativa de trazer para essa região um pouco do prestígio e do dinheiro disponível no momento. A ideia era estabelecer uma identidade do chefe da nação com o norte de Minas Gerais. E nada melhor do que construir a visão do sertanejo valente, do homem destemido, que não desanimou frente a uma natureza adversa, pronto, vocacionado que estava para enfrentá-la. O sertanejo, na visão da elite montesclarense nos anos de 1950 era, sobretudo, um forte, para usar uma expressão do Euclides da Cunha.



Um Centenário (1957) foi inventado, o presidente foi convidado para inaugurar o Parque de Exposição, e as casas e ruas no trajeto que ele faria foram pintadas e asfaltadas. Vivíamos a possibilidade de um impulso econômico considerável. O problema é que, diante das disputas entre os grupos dirigentes locais, JK veio, inaugurou o parque, fez discurso, agradeceu e foi embora.



A estratégia havia falhado pela falta de identificação da elite com a própria cidade, representada pela divisão dos seus grupos que abriram mão de um grande projeto para a região, para pensar, de início, somente nos interesses particulares.



Mas uma segunda tentativa vai ser feita, e desta feita o alvo mirado foi o atingido. Explico. Ainda durante o gov. JK foi criada, através do ministro Celso Furtado, a Sudene. A princípio tal autarquia fora constituída para fazer frente aos índices precários de desenvolvimento econômico e social do nordeste brasileiro. Mas a identificação de clima, indicadores sociais e econômicos empurrou nossa elite para que pudesse reivindicar a inclusão da região dentro da sua área de atuação.



O sertanejo forte, destemido e valente, vai ceder, paulatinamente, lugar para o miserável e retirante, para o doente e desassistido, para o incapaz que precisa da tutela do Estado para sobreviver.  A expressão de Euclides da Cunha vai ser reinterpretada por um médico e político local famoso. Agora, o sertanejo é, sobretudo, um fraco! É essa estratégia que, articulada a outros fatores de ordem política e econômica, que permitiram a inclusão definitiva do norte de Minas Gerais na área de abrangência da Sudene.



As consequências, negativas ou positivas sobre a região serão analisadas em artigos posteriores.

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