Marcelo Valmor
Professor universitário e articulista político
Em conversa tempos atrás com meu amigo Antônio Carlos (Tonico), proprietário da Pactum Engenharia, o mesmo me adiantou um dado por demais alarmante: Montes Claros terá, em torno de 2020, perto de um milhão de habitantes.
Evidentemente que quem anda pela cidade sabe que as mudanças que ocorrem por aqui são mais do que significativas. As velhas lojas estão cedendo suas fachadas a grupos comerciais que trabalham com o que há de mais moderno em termos de propaganda. Também é perceptível a ampliação do número de joalherias. Neste segmento, sobretudo no de relojoarias, ainda sobrevivem profissionais que ligam a Montes Claros de ontem com a Montes Claros do futuro. Estou falando de Eustáquio e de Zezão, senhores que tem no ofício de recuperação de jóias, tanto quanto na de relógios, sua função mais nobre.
Se décadas atrás não conseguimos movimentar um pequeno shopping center na avenida Afonso Pena, hoje a cidade conta com dois. Dois que ampliam suas atividades a olhos vistos. Há por trás destes espaços um sem número de lojas e restaurantes prontos para oferecer o que há de mais moderno em seus segmentos.
Paralelo a esse movimento assistimos a redução dramática quanto ao número de alfaiates. Jerry tem clientela em meio ao “desaparecimento” deste profissional. Tá certo que quem tem bom gosto não os abandona jamais. Afinal, não tem nada comparável a um corte que tem a nossa medida e feita a roupa de forma puramente artesanal. Mas é a isso que se assiste.
Mas ao mesmo tempo que esse profissional cede espaço para as pronta entregas, assistimos ao surgimento de profissionais da moda, homens e mulheres que tem procurado inserir Montes Claros na lista daquelas cidades que primam pelo bom gosto e pela sofisticação. Entre esses profissionais, não poderíamos deixar de destacar a figura de Ascânio Macedo.
Tio de Dui Macedo (Mapa de Minas), Ascânio estudou estilismo, viajou mundo, conheceu tendências e elaborou seu ponto de partida. O sertão anda um pouco esquecido nas suas criações, - todas de primeira linha -, e vai estourar de vez quando conseguir traduzir, sob a forma de cortes femininos e masculinos, toda a nossa riqueza.
E falar no Mapa de Minas é falar de um grupo de empresários jovens que recusaram a prática do abre e fecha barzinhos para inaugurar uma noite fervilhante. O próprio Mapa, Taquaras, Parrilla, Quero Pizza, Favorito, Inevitável, etc. estão aí para comprovar aquilo que está sendo dito aqui.
A cidade cede espaço, cada vez mais, a mudanças impossíveis de serem imaginadas por aqueles que sempre trataram essa parte de cá do estado como um lugar qualquer. Quem acreditou nas palavras de Luiz de Paula Ferreira sabe o que estou dizendo. O empresário, ao criticar o descaso dos governos com a região nos anos de 1970, profetizou: “Para o povo de Belo Horizonte, Minas só contaria a partir do paralelo 40, na altura de Curvelo. O restante seria a chamada terra dos baianos cansados. Mas enquanto isso fatos novos aconteciam.”
Não é à toa que é empresário bem sucedido, e comanda, junto com o vice-presidente da república José Alencar, uma das maiores empresas do Brasil. Homem de visão, gente de visão, pessoa de visão. A cidade que tem um Luiz de Paula Ferreira deveria lhe prestar homenagens ainda em vida. Também não poderíamos deixar de citar aqui a figura de Toninho Rebello. Projetou uma cidade quando ainda a maioria acreditava ser isso aqui uma grande fazenda, e, a despeito dos seus críticos, inaugurou as poucas obras modernas que temos por aqui.
E assim vamos caminhando para a casa de um milhão de habitantes como indicou meu amigo Tonico. E por isso mesmo devemos nos preocupar com a qualidade de vida que queremos, com o tipo de relacionamento que devemos ter com aqueles que são ou querem ser nossos parceiros nos negócios, seja um empresário de fora, seja um cliente que se dirige a uma das dezenas de lojas da cidade para adquirir um produto.
Mas não custa nada lembrar que toda essa riqueza e essas mudanças não podem estar desassociadas da preocupação com a periferia da cidade. Se a cidade avança para esse número de habitantes, se gera tanta riqueza quanto estamos observando, a coisa proporcionalmente tende a avançar no campo social.
Os portugueses quando conquistaram parte do planeta, isso lá nos séculos XV e XVI, estabeleceram acordos com os povos “conquistados”, e cederam parte das suas riquezas de forma a usufruirem da quase totalidade delas.
Vamos precisar, assim como os eles, saber negociar esse crescimento, sob pena de, depois de amanhã, termos que aumentar ainda mais os muros das nossas casas, dobrar a potência das cercas elétricas e investir ainda mais em segurança privada.