Mercedes Sosa

Jornal O Norte
16/10/2009 às 10:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:14

Felippe Prates

Ela foi a voz maior da América, o canto que arrebatava multidões em torno dos ideais de liberdade, igualdade, fraternidade, via democracia.  Seu canto, um brado glorioso, era de alerta, emboramente num apelo, com afeto e muita emoção.  Ouvimos Mercedes Sosa nas praças, nos discos, hoje e sempre com igual deslumbramento, pois sua voz grave e afinada entrava por dentro da gente, acelerava nossos corações, tonificando a alma e o espírito, arrepiando-nos, nos empolgando, ao despertar a cidadania.

Enquanto os militares latinos, os gorilas, se compraziam com a dor e a morte, os poetas, músicos e cantores espalhavam esperança e resistência por todo o continente.

Mercedes Sosa nos chegou em 1976, no disco “Gerais”, cantando a linda música “Volver a los 17”, de Violeta Parra e nunca mais nos abandonou.  Enredou-se em nós como a hera no muro, brotando em nossa pele como o musgo na pedra.  Saiu pelo mundo levando nosso grito, nosso recado, nossa comunhão de sentimentos, nossa irmandade.  Sua alma generosa era um manto que a nós nos protegia.

A cantora tinha em Milton Nascimento e Fernando Brant, os representantes de sua arte no Brasil. Conta Brant, autor de algumas de suas canções, “demoramos um bom tempo para trocarmos abraços.  Em um show dela, com Milton e Leon Gieco, no estádio do Vélez, em Buenos Aires, eis que alguém me leva ao camarim de Mercedes.  Ainda bem que tenho testemunhas.  Quando me anunciaram ela se levantou da cadeira, aproximou-se e, para meu espanto, se ajoelhou diante de mim!  Paralisado pelo inusitado da cena, recuperei-me em alguns segundos da surpresa e me ajoelhei diante dela.  Nos abraçamos longamente, com as lágrimas rolando pelos nossos rostos.  Essa foi a maior homenagem que recebi em toda a minha vida de compositor de canções: Eu, um menino, aos pés de uma deusa!”

Sua eterna “Gracias à la vida que me há dado tanto”, ao conhecê-la, a curtimos, nos emocionamos quantas e quantas vezes a ouvimos. Seus belíssimos versos ganharam luz e força com as interpretações sem igual, vitais, que cantaram a beleza do nosso tempo, no nosso pedaço.  Nos sentimos irmãos de todos os autores que ela cantou.

Choramos por Mercedes Sosa, mulher, mãe de todos nós, que soube expressar os nossos melhores sentimentos.  A voz incomum, permanecerá guardada não só nos nossos ouvidos, mas, principalmente, nos nossos corações e a lembrança da sua forte presença, também.  Sua gana, sua raça, aprenderam a conviver respeitosa e harmoniosamente com sua graça e os seus sonhos, um privilégio da sua genialidade.

Feliz de quem viveu e vivenciou o seu tempo.

Que Deus-Pai  a receba, com todo o carinho que Mercedes merece.

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