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Terça-Feira,23 de Dezembro

Mau cheiro na embarcação

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 03/06/2014 às 10:14.Atualizado em 15/11/2021 às 16:51.

Manoel Hygino

Yves Mello enviou a Fernando Guedes e este me reencaminhou um caso muito interessante e que de perto diz respeito ao período político que atravessamos. Refere-se a episódio envolvendo a Marinha Mercante Britânica, cujos marujos em uma embarcação não tomavam banho nem trocavam de roupa, há meses.

Por óbvias razões, o odor fétido percorria todas as áreas. O fato não escapou, como não poderia, à sensibilidade olfativa do comandante. Este convocou a sua cabine o imediato e o advertiu severamente:

– Mr. Simpson: o navio exala mau cheiro desagradável e pútrido. Manda os homens trocarem suas roupas. Imediatamente.

O imediato, atento, obedeceu: “Aye, aye, Sir...”.

Partiu para a parte inferior da embarcação, reuniu seus homens e transmitiu a ordem:

– Marinheiros, o capitão se queixa do fedor a bordo e manda que todos troquem suas roupas. Assim, tu, David, troca a camisa com John; John, troca a tua com Peter. Peter troca com Alfred; Alfred com Gilbert.

Todos mudaram suas roupas, por força do que, contente, o imediato voltou ao seu superior e comunicou: “Sir, todos já trocaram de roupa”. Imediatamente, o capitão, visivelmente aliviado, mandou que a viagem fosse reiniciada. Só no decorrer de algumas milhas constatou-se que os marinheiros apenas tinham permutadas as roupas entre si, sem serem lavadas e sem que os marujos se banhassem. O mau cheiro logo voltou e impregnou desagradavelmente todo o ambiente.

Como a marinha era de Sua Majestade Real, o episódio automaticamente evoca Shakespeare, que – na voz e palavras do príncipe dinamarquês Hamlet- reclama, após o assassinato do pai, monarca, do ambiente na corte: “Há algo de podre no reino.”

Em resumo, a moral da história: não basta eliminar o odor desagradável com a simples substituição das roupas, se as causas – em outras palavras: a decomposição, a degradação – continuam. No caso da vida política brasileira, é indispensável mudar. Não só as roupas, mas também figuras que as vestem.

A hora se me afigura extremamente apropriada, até porque há uma eleição importantíssima este ano. O homem deste país, o que trabalha, produz e paga impostos, espera que haja uma transformação profunda, mas evidentemente tem de comprometer-se consigo mesmo e com o futuro. Em uma democracia, todos somos responsáveis por nosso próprio destino.

Sabem todos os brasileiros de onde vem o mau cheiro, podem percebê-lo, identificar seus agentes e contribuir, assim, para eliminar as causas e prevenir contra os efeitos perversos. Acresce que, agora, o mundo está de olho no Brasil. Não podemos demonstrar incapacidade política e despreparo para a prática da democracia, tão duramente reconquistada.

O mau tempo precisa, mais do que isso, exige transformações. Principalmente depois da Copa, as atenções estarão muito voltadas para nós. Chegou o momento de correspondermos às expectativas.

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