Bruno Peron Loureiro *
Os grupos minoritários não refletem apenas um dado aritmético, mas correspondem ao que entendemos como os desprovidos de voz e poder, ou seja, que estão em posição de subalternidade. A indiana Gayatri Spivak afirmou que, se os subalternos pudessem falar, isto é, de um jeito que realmente nos importasse, então não seriam subalternos. O nosso Brasil contém vários grupos que reivindicam a sua vez: desde aqueles vinculados a gênero e etnia até os obesos e ciganos. Cada um com seu pretexto.
Sou contra qualquer tipo de discriminação, idéia pré-concebida e suplantação do direito de voz de grupos minoritários. Por isso, é um bom momento para retomar a questão das minorias, visto que se passou a febre da semana da “consciência negra” e o tempo presente só nos permite perguntar o que se construiu de diferente, se é que houve essa construção. O cenário que se tem é de uma guerra ainda não ganha onde ninguém sabe por onde recomeçá-la, nem se é com o mesmo método que ela deve seguir sendo travada.
Preconceitos antiquados são dissimulados por políticas como a criminalização do racismo, o discriminatório sistema de cotas em universidades, dias do ano dedicados a tais e quais grupos. Tenta-se combater erros históricos com o poder de legislar, porém poucos propõem a inclusão desde a base, ou seja, a educação que recebem as classes hegemônicas e as subalternas. As minorias conquistam voz pelo convencimento nas democracias modernas. Se não for assim, é gritar no vácuo.
Ser minoria no Brasil está dando o que falar: estrangeiros que são extorquidos em cidades turísticas brasileiras ou mortos pela violência; homossexuais que promovem paradas a favor da tolerância; negros e índios que propõem o fim da discriminação com soluções, por vezes, duvidosas; mulheres que clamam por maior participação em cargos de dirigência. Isso tudo é devido à intolerância e baixa capacidade de conviver com o diferente.
Alguns dos problemas enfrentados pelos grupos minoritários caracterizam uma dívida histórica mal paga. E não adianta declarar a moratória. Sabemos que, até pouco tempo atrás, as mulheres dificilmente ocupavam cargos de chefia e eram subalternas num sistema machista. Hoje é mais comum os homens cuidarem da casa tanto quanto as mulheres. Falha da aritmética que concedia a estas o papel de minoritárias. Na América Latina, Cristina Kirchner foi eleita presidente da Argentina quando Michelle Bachelet já havia vencido as eleições no Chile.
Em seu turno, os índios, embora ainda sofram pressão de alguns fazendeiros, aderem cada vez mais aos atrativos da cidade sem perder suas tradições, enquanto se comemora maior inserção social dos deficientes físicos em empresas e pela infra-estrutura urbana que atende às suas necessidades. É preciso também desqualificar a relação entre etnia e a população das favelas para que a pobreza não seja mais associada a idéias ultrapassadas de raça. Esta não pode ser mais causa de marginalização. O Brasil comporta uma diversidade que caracteriza o seu povo e auspicia um futuro de inclusão de todos.
* Bacharel em Relações Internacionais