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Sexta-Feira,20 de Setembro

Linhagem sagrada: A herança de Maria Madalena

Jornal O Norte
30/11/2009 às 11:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:18

Heresia, se refere a uma doutrina destoante da oficialmente aceita. Não significa necessariamente, que esteja errada. Considerar que Vincente Pinzón visitou o Brasil antes de Pedro Álvares Cabral constitui uma “heresia” à história do Brasil, embora esse seja um fato perfeitamente comprovado ! É bastante relativo considerar uma idéia ou doutrina como sendo herética.

Os ensinamentos de Jesus de Nazaré, por exemplo, constituíam-se uma verdadeira heresia ao sistema religioso/social no ambiente judaico da Galiléia, durante o primeiro século d.C. As idéias a seguir constituem uma heresia, por estarem em aberto conflito com a interpretação ou posicionamento oficial sobre a história da vida e ensinamentos de Jesus de Nazaré, mas não se revestem de meios ofensivos nem difamatórios, não sendo, portanto, blasfêmias. Muito pelo contrário, procuram fortificar o conceito de santidade e enaltecer a figura espiritualmente elevada do Mestre da Galiléia, ao final desta exposição, espero que os tópicos aqui abordados estejam, pelo menos, razoavelmente entendidos, sem que isso importe, necessariamente, a concordância de todos.

DE REI A PASTOR

O Livro dos Reis, no Antigo Testamento, narra como o profeta Samuel ungiu a Saul, entronando-o como rei de Israel, ao derramar sobre sua cabeça o óleo contido em um vaso. Saul foi, pois, ungido rei por Samuel.

Rei Davi Um jovem pastor de ovelhas, chamado Davi, conquistou a amizade do rei e, ao matar o gigante Golias, tornou-se herói, conquistando a graça do rei e o respeito do povo. Davi cresceu em prestígio e isso finalmente causou a inveja de Saul que tentou, inclusive, matá-lo mais de uma vez. Davi, entretanto, manteve-se sempre fiel ao seu rei, Saul, o qual, mais tarde, reconheceu essa fidelidade.

Após a morte de Saul e seu filho Jônatas, Davi foi ungido rei de Judá em Hebron e algum tempo depois, os anciãos de Israel ungiram-no rei de toda Israel. Davi permaneceu em Judá onde reinou por sete anos e seis meses, indo depois para Jerusalém, onde reinou toda a Israel por mais trinta e três anos. O reinado de Davi, não obstante ter ocorrido num período de muitas guerras, foi próspero e muitas conquistas foram efetuadas. Davi foi sucedido por Salomão, seu filho. O reinado de Salomão, como o do seu pai, foi muito próspero nas Finanças, Construções, Ciências e Artes, Literatura, Agricultura, bem estar geral da população e o Império de Israel era unificado.

Templo de Salomão

Foi durante o reinado de Salomão que foi construído o magnífico Templo, no qual foi guardada a Arca da Aliança. Nessa tarefa de construção, colaborou o rei de Tiro chamado Hiram e vieram muitos artífices nas diferentes artes de construção liderados pelo artífice-mestre, Hiram Abiff, vindo de Tiro, que reputava-se como sendo conhecedor de inúmeras artes, desde a Geometria, conhecimento de como utilizar os blocos de pedra, madeiras diversas, e moldagem de pilares usando-se bronze. Era conhecedor das ligas metálicas, dos mistérios da Natureza e toda sua ciência era mergulhada em segredos.

Fez construir as duas magníficas colunas de bronze, Boaz e Jaquim, ricamente decoradas e descritas no Terceiro Livro dos Reis. Após a morte de Salomão, quando reunidos em Siquém, as tribos do norte solicitaram ao monarca constituído, Roboão, filho de Salomão, que diminuísse a carga de tributos imposta pelo seu pai. Roboão, não agindo com a devida prudência, insultou pesadamente aos membros das tribos do norte, que se rebelaram contra ele e se apartaram das do sul, no que resultou nos reinos de Israel (separados da Casa de Davi) e de Judá, sob o comando de Roboão. Esta foi uma ruptura permanente, no que enfraqueceu o povo judeu. Em conseqüência, o Reino de Israel foi destruído, após o reinado de Salomão, com a tomada de Judá e Jerusalém pelos assírios, durante o sexto ano do reinado de Ezequias (como rei de Judá) e nono de Oséias como rei de Israel.

Alguns séculos depois, em 63 a.C, Pompeu investiu contra Jerusalém, conquistando-a por definitivo e pondo um fim na Dinastia de Israel. Em 37 a.C. Herodes Idumeu ocupou o trono de Israel, de forma ilegítima, com a colaboração dos romanos. Reinou despoticamente, contra os interesses de seu povo até o ano 4 a.C. Nesse período, houve uma enorme ascendência dos Fariseus na Judéia e em toda Israel, que davam total apoio a Herodes que não passava de uma marionete nas mãos dos astutos romanos.

SITUAÇÃO DOS JUDEUS/Contexto histórico

O povo judeu era cativo, estava disperso e enfraquecido; submetidos a uma autoridade estrangeira (não judaica) ou exilados em terras distantes, os judeus perdiam aos poucos contato com sua própria tradição religiosa. Havia, também, muita inconsistência interna, dentro do povo judeu, com muitas seitas ou doutrinas extremas e concorrentes. No cenário judaico havia os Fariseus, os Saduceus, os Essênios, os Zelotes e os Sicários, entre outros grupos políticos de menor importância. Como a monarquia judaica era eminentemente teocrática, baseada na Torah (cinco primeiros livros do Antigo Testamento), esses grupos tinham interpretações diferentes sobre a Lei das Escrituras e cada qual tinha conceitos e expectativas próprias de como seria e deveria agir o Messias prometido. Era esse o contexto político, social e religioso que aguardava ansiosamente pela vinda desse salvador, o Messias.

O MESSIAS ESPERADO

O que exatamente era o Messias ? Segundo as expectativas dos judeus da época, o Messias deveria ser alguém que pudesse liderar seu povo tornando-o livre da submissão e da humilhação de serem subordinados aos romanos, de serem uma nação sem pátria. Uma das funções do Messias seria a de restituir a genuína Dinastia de Davi, e isso apenas seria possível com a ocupação do trono por parte de um descendente legítimo dessa dinastia. É exatamente por essa razão que os Evangelhos mencionam a descendência de Davi até Jesus, como uma comprovação da linhagem genuína de Jesus e da continuidade dessa linhagem. Em outras palavras, a menção à genealogia de Jesus, nos Evangelhos, reflete a ênfase dada por seus seguidores sobre a origem dinástica de seu mestre, numa tentativa de legitimá-lo como pretendente ao trono, pois caso a missão de Jesus fosse apenas religiosa/espiritual, esse detalhe (menção a sua descendência) não teria qualquer relevância.

Como Messias, a situação política de Jesus era muito delicada. Ele era reconhecido e por isso temido como o genuíno pretendente ao trono, uma vez que Herodes sabia ser ele o verdadeiro herdeiro do trono de Davi. Os antepassados de Herodes haviam usurpado o trono com a colaboração mútua entre eles e os romanos. A ascendência de José e Maria era conhecida por todos, o que fazia de Jesus uma séria ameaça aos planos de Herodes. Na verdade, desde seu nascimento que Herodes o queria eliminar.

Como poderia Jesus lutar contra o poder constituído da época sem exércitos e sem recursos? Jesus tinha o apoio do povo, embora não tivesse o apoio da classe dominante, isto é, os parceiros e amigos de Herodes e os sacerdotes do Templo, bem como os Fariseus e os Saduceus. Tampouco ele interessava aos romanos.Ele preferiu concentrar-se no povo, e era nesse povo que ele estabelecia sua posição como Messias, com ênfase em seu aspecto espiritual, e isto sem prejuízo de sua posição de rei por direito.

A prisão e morte de Jesus estava sendo planejada por Herodes, Caifás, os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e todos os usurpadores.O Sinédrio decretou a prisão e morte de Jesus com astúcia e desespero político como podemos observar em João (11:47). “Caifás disse: se o deixarmos fazer milagres todo povo crerá nele e os romanos virão e tirarão nossos lugares”. Todos os parentes e seguidores de Jesus corriam perigo, pois os sacerdotes planejavam matar também a Lázaro porque (após ser ressuscitado) muitos também acreditavam nele e (por causa de seu testemunho) seguiam Jesus (João 12:10).

A sua prisão e morte foi um evento essencialmente político. A interpretação dada pela Igreja de que a condenação e a morte de Jesus foi motivada por fatores ligados a sua doutrina, não coaduna com o que está claramente disposto nos Evangelhos. “E a causa de sua condenação estava escrita nesta inscrição: O REI DOS JUDEUS”. Ou Mateus (27:37) “E puseram por cima de sua cabeça uma inscrição indicando a causa de sua morte: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS”. Esta inscrição não apenas tinha o propósito de humilhar, mas era também uma clara ameaça. Tanto que Pilatos a escreveu em Hebraico, Grego e Latim (Lucas 23:38) e (João 19:19-20).

Jesus estava consciente de seu papel espiritual como Rei-Santo. Como santo pregava e ensinava as coisas do espírito e como Rei, por demais conhecia os perigos dessa missão, e, portanto se precavia, o que incluía planejamento, estratégias e cuidados, tais como agir de modo a ser identificado como o Messias prometido à luz das escrituras e dos profetas, evitar certos movimentos, certos percursos e, também, a necessidade do uso de armas.

Quando da prisão de Jesus pelos enviados dos sacerdotes juntamente com os soldados romanos no Horto das Oliveiras, é por demais conhecido o episódio em se fez uso de da espada numa tentativa de evitar a investida contra Jesus. Todos os quatro Evangelhos mencionam esse episódio. Mateus (26:51) e Marcos (14:47) não identificam qual dos discípulos usou da espada e feriu um dos servos do sumo sacerdote. Lucas (22:50) menciona que os que estavam com Jesus, vendo o que ia acontecer, disseram-lhe: Senhor se os feríssemos à espada ? E um deles feriu um servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. Embora não diga qual foi o discípulo que usou a espada, Lucas, não obstante, diz que alguns deles queriam fazer uso da espada! João faz referência a Pedro, como o discípulo que empunhou a espada (João 18:10). Notemos, todavia, que Jesus não ficou horrorizado ou surpreso, diante da atitude de Pedro ou de alguns discípulos, apenas entendeu a desnecessidade do ato, naquele momento.

Estava previsto que o Messias também garantisse a continuidade dessa linhagem. Para que isso fosse possível, era imperativo o estabelecimento dessa linhagem segundo regras específicas.

As regras estatutárias para um casamento dinástico-sagrado (Hierogamos) eram as seguintes:

1- No início de Junho acontecia a cerimônia de noivado, quando a noiva apresentada ao noivo, ainda permanecia na casa dos pais;

2- Três meses após, em Setembro, seria formalizada a Primeira Cerimônia de Casamento, onde a vida conjugal teria início, embora, nesse período, não fosse permitido a conjunção entre o casal. A “noiva-irmã” servia o esposo à distância e só comparecia à sua frente quando chamada por este. È importante notar que a esposa era chamada de almah, virgem ou jovem mulher, na palavra semítica original e que foi incorretamente traduzida para o latim como virgo intacta;

3- Na segunda metade de Dezembro eram permitidas as relações físicas, para, em caso de gravidez, o filho poder nascer em Setembro, o mês do Perdão, como deveria convir ao Messias. Entretanto, caso não sobreviesse a gravidez, a esposa ainda continuava a ter a denominação de almah, retornando à casa dos pais e submetendo-se a um novo noivado em Junho, com um Segundo Casamento em Setembro, reativando todo o ciclo já descrito;

4- Caso fosse confirmada a gravidez. após o mês de Dezembro, haveria a confirmação do Casamento em Março e eles estariam definitiva e devidamente casados.

Podemos ver que era um sistema bem definido e controlado, onde o casal observava preceitos religiosos e verdadeiro celibato, como pressuposto para a geração de um representante espiritualmente capaz na recondução do povo de Israel à liberdade política e que implicava a própria liberdade espiritual, segundo os preceitos da Torah e como deveria convir ao líder do povo escolhido de Deus. Assim, longe de ser um casamento de paixões mundanas, o hierogamos ou o Casamento Sagrado/Dinástico pressupunha o contato físico apenas em períodos permitidos, sob estrito controle.

(Continua...)

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