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Sexta-Feira,10 de Janeiro

LIBERDADE E REFORMA NO BRASIL

Jornal O Norte
Publicado em 12/02/2008 às 10:08.Atualizado em 15/11/2021 às 07:24.

Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais pela UNESP (Universidade Estadual Paulista).



No Brasil, não estamos preparados para usufruir da liberdade em sua plenitude, embora seja o objetivo que todos devemos perseguir incansavelmente. Antes desta conquista, precisamos superar o dilema que exponho nos parágrafos seguintes com uma reforma da consciência e do sistema político que seja cidadã, duradoura e sustentável.



Vivemos um momento dilemático na história brasileira por não termos ainda descoberto qual caminho trilhar, dúvida do século passado: o neoliberal proposto pelos Estados Unidos com apelo às liberdades individuais e de mercado, ou o estatista, como o modelo seguido pelo presidente Lula na tentativa de assegurar os direitos sociais e combater a fome e a miséria no Brasil. Este, no entanto, sofre pressão a favor da redução dos impostos sem os quais se dificulta a reforma pretendida.



Em alguns aspectos, o Brasil segue a receita dos Estados Unidos com soluções para o presente, mas com a diferença de não ter condições de efetivá-las. O problema de lá é que o excesso de liberdade pode provocar uma decomposição de valores e embrutecimento da sociedade, enquanto nós temos acesso a uma variedade de produtos de consumo desde televisores até carros luxuosos, porém com baixíssimo poder de compra, o que nos tira de alcance boa parte dos atrativos que estão no mercado.



Por isso, vejo com desgosto qualquer informação relacionada a Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela transmitida por alguns meios brasileiros poderosos de comunicação que constroem a imagem de que seus líderes são malucos, desequilibrados e constituem ameaça para o Brasil. Repugnância não destes países, onde há manifestações notórias a favor de maneiras de resgatar o social na América Latina, mas dos mecanismos usados para acobertar os anseios de reforma, discriminá-los e até criminalizá-los.



Para ilustrar a situação, o programa domingueiro do Fantástico, transmitido pela Rede Globo em horário nobre, preparou e transmitiu uma reportagem em que se questionava como a população brasileira se defenderia de um ataque eventual da Venezuela, que sabemos tem investido em material bélico, mas numa alusão infeliz de que este país invadiria o Brasil, que reagiria com suas Forças Armadas anacrônicas, talvez por nossos governantes serem “papagaio do império” como se referiu uma vez o presidente Hugo Chávez. Quanta manipulação.



De outra perspectiva, o filme “A cidade perdida”, de Andy Garcia, apesar de ser dirigida por estadunidenses que se intrometem na América Latina com suas táticas de condicionamento mental, recordou-me de alguns traços acerca da revolução cubana que também dificultam o desenvolvimento democrático. O maior problema de um país regido pelo estatismo é que poucos burocratas dizem o que fazer e pensar para o resto da vida, como o episódio de proibição do saxofone pela chefe do sindicato dos músicos porque é instrumento do imperialismo. Assim a liberdade também se distancia.



O Brasil aparece em cena nesse puxa pra cá e pra lá entre o estatismo e o neoliberalismo e, na circunstância atual, é um risco optar por algum dos extremos. O que está em questão é a liberdade, que não é remédio para todos os males, pois não é boa se caminhar junto com a ignorância e a baixa renda. Uma boa reforma há de nos dar a todos liberdade e, mais ainda, condições para sermos livres.

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