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Domingo,12 de Janeiro

Leitura sem censura - Suicídio - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 17/04/2008 às 10:41.Atualizado em 15/11/2021 às 07:30.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



Ódio, amor,coragem e covardia, definições do próprio termo que segue sustentando sua ambigüidade ao longo de todos os tempos. Uma angústia e um sofrimento que corroem o interior do ser, que se asfixia na toxina depressiva do negrume sentimental.



Flávio tinha sonhos de se casar com Mariane, ir morar nos Estados Unidos para, juntos, ganhar dinheiro e montar seu próprio negócio, porém, outros planos tinham o destino para ele, que desde os 19 anos padecia do distúrbio bipolar.



Em maio do ano passado, Flávio ingeriu uma caixa de Triptanol e foi encontrado morto dentro do seu quarto. No computador aberto havia algumas linhas em que ele pedia desculpas para todos e se despedia da namorada dizendo que iria apenas descansar.



Suicidar, talvez, não seja simplesmente uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros, como pregou Rousseau. Talvez seja a positivação máxima da vontade humana, conforme Schopenhauer. A verdade é que o suicida pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário. É um grito  abafado pelas leis sociais que impõem a padronização dos seres.



Alienados religiosos e afins condenam o suicida com base na idade média cristã, onde o homem deixa de ter plenos direitos adquiridos e inalienáveis sobre si, para ser  condenado por estar atentando contra o divino. Porém, a própria bíblia fala de Sansão e Judas Iscariotes, ambos mortos em posições diferentes na escala de valores, um como traído, outro como traidor.



E a história registra mais mortes de famosos sem ter condições de divulgar os milhares e milhares de cidadãos comuns que se matam por não suportar as dores advindas de um interior maculado por dificuldades patológicas e sociais. Para Sartre, a morte é a contingência, algo que acontece sem que possamos evitar, e impede a concretização de nossos projetos.



Já o professor Nieldson Cunha chama de ciclo de realização individual o que foi feito pelo suicida que tem noção do seu tempo e a ele dedica suas maiores obras, por saber da efemeridade da sua estadia terrena.



Enfim, o suicídio pode ser tratado de diversas formas, encarado como um caso de saúde pública, pois, apesar de todas as dores, a vida ainda é um patrimônio valiosíssimo. Acordar todos os dias e vivificar os desejos é inenarrável. Amar com a força descomunal do querer é ir além de todas as cortinas. O suicida só não pode ser tratado como instrumento do fantasioso diabo, pois a vida é aqui, já estamos nos queimando no fogo da incompreensão...

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