Leitura sem censura: Soletrando - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 25/03/2008 às 10:40.Atualizado em 15/11/2021 às 07:28.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



Nem tudo esta perdido. Enquanto Pedro Bial aliena grande parte dos brasileiros a contribuir com sua audiência e  suados níqueis, para mostrar seu programa trasch de pornografias e atentado contra a língua portuguesa, e Faustão  tortura as tardes de domingo, vem surgindo na televisão algo diferente que merece a nossa vista, o quadro Soletrando, dentro do Caldeirão do Huck, que se mescla a pratos comíveis e intragáveis. A atração é um filme de suspense, que coloca garotos e garotas como protagonistas numa trama tão bem costurada que nos obriga a ser figurantes.



Com idade entre 12 e 16 anos oriundas de escolas públicas, cursando do quinto ao último ano do ensino fundamental, elas vêm de todas as partes do Brasil. Com seus sorrisos e seus temores unidos às diferentes situações financeiras, credos e raças, vão sendo provadas e reprovadas em diversas etapas, até que se tornem representantes do seus estados para a grande mostra em nível nacional.



Neste momento de apresentação desses adolescentes, nosso coração não tem como continuar no mesmo ritmo, as lágrimas também são nossas, ainda que seja lá do Tocantins ou do Amazonas, não importa. O que sentimos é que aos poucos vamos recobrando nossas esperanças. Quem disse um dia que o Brasil é um país do futuro pode reafirmar soletrando as palavras. Quem pensou que as nossas crianças e adolescentes se concentravam a maioria nas mãos do tráfico e nas estradas, se prostituindo, começa a repensar o que disse e usar o verbo crer com toda a intensidade. Precisa separar os sujeitos e explorar os bons adjetivos.



O professor Sérgio Nogueira presta consultoria à Central Globo de Jornalismo RJ e é jurado do Soletrando. Segundo ele, “isto é uma brincadeira sem intenção de alfabetizar ninguém, já que todos os participantes sabem ler e escrever, que é a prática da leitura e da escrita que aguça a memória visual”.



Brincadeira, jogo ou o que quiserem nomear, o fato é que o aluno precisa se preparar, lendo romances, jornais, dicionários e tudo que vier a mão, já que o universo das palavras é infinito. Nós torcemos e participamos, fazemos autocrítica e aprendemos sim, somos aliciados ao dicionário e descobrimos nosso desleixo com a língua.



Talvez não fosse querer muito ampliar esse jogo  para as tardes de Malhação, para as noites da zona BBB, com os pais que ficam ociosos acumulando trombos nos vasos sanguíneos e esperando o mal de Alzheimer chegar.



Elen acaba de completar 15 anos, sonha em se formar em Medicina, tem consciência de que a estrada é árdua, mas não deixa seu objetivo se perder sofrendo com o que virá, lê livros e acaba de escrever uma crônica para sua colega. Elen sorri com suas covinhas no rosto e sonha com um mundo sem violência. E Paulo Freire sintetiza:



- Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar.

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