Adilson Cardoso
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Vivemos cercados por todas as tendências. Por sermos seres coletivos dependemos uns dos outros para completar nossos ciclos. Deparamos com pessoas que irradiam energia falando em nome do amor e que procriam o bem. Assim também é no reino animal: cães, gatos, pássaros e outros que por hábito da dependência humana os domesticamos para encubar nossa solidão com suas imensuráveis simpatias.
Esta é a parte boa da comuna, mas como nada é perfeito nem aquele jargão religioso, precisamos nos adaptar com aqueles que se ocupam do negativismo, achando sempre que estão com o fardo do mundo nas costas. Essas miseráveis figurações do existir não têm ouvidos para escutar as dores de ninguém. Quando você fala que está chateado buscando uma palavra amiga, ela responde que a vida não presta, que se não fosse a fé em Deus já não estaria viva, que sua família não lhe dá atenção, que a conta de luz aumentou e ela não sabe por que.
O telefone tem ligações que ela não fez, seu salário é uma droga e que passa as noites em claro por falta de sono. Outro dia você comenta sua leve dor de cabeça causada pelo clima instável da nossa degradada natureza, sem nenhuma intenção de assistencialismo verbal, mas o arrependimento é imediato, a hipocondria pulveriza o ambiente e a nostálgica criatura começa dizendo que sua cabeça dói tanto que sente um tumor pulsar lá dentro. Por isso vai pedir uma tomografia ao seu médico só para confirmar, pois dessa dor de cabeça lhe doem os olhos que às vezes não enxergam nada...
Outro dia caiu no quintal e quase quebrou a perna em dez lugares, também por causa da dor de cabeça. Doem os ouvidos, sendo que o esquerdo só escuta se gritar de muito perto. E nem quer comentar sobre o intestino, que anda desregulado. Quando aumenta a dor fica três dias empanzinada e sofrendo. Ainda fala que você nem podia estar ouvindo aquilo, mas é que para morrer basta estar vivo. Sendo assim, ela precisa desabafar.
Domingo de futebol e tem Cruzeiro, canal fechado, e você paga dois reais para entrar. Ao seu lado senta-se justamente a última das pessoas desejadas para aquele momento, seus olhos negativos já começam a visualizar aquilo que sua língua indiscreta não consegue segurar. No primeiro lance diz que o goleiro é frangueiro, a zaga não presta, o meio de campo não sabe passar a bola ao ataque e o ataque não tem competência para finalizar.
O juiz marca impedimento, ela fala que está roubando. O time faz gol diz, que foi na sorte e repete que torce pelo time, mas se não tomar cuidado cairá para a segunda divisão. Intervalo do jogo, volta do banheiro dizendo que lá está com mau cheiro, que o cara que está na cadeira ali do lado parece que é gay, que só assiste ali por que ainda não recebeu o dinheiro que fulano está devendo para comprar uma antena de recepção.
Essa facção de mau agouro tem representantes na religião com aquelas bem vestidas testemunhas que esquecem que trabalhamos a semana inteira e domingo é dia de dormir até mais tarde. O que educadamente eles atalham feito coito interrompido, para entregar seus panfletos muito bem coloridos, de seres utópicos em verdadeiras paisagens imaginárias.
Na televisão alguns com poderes de passar todas as tardes de domingo falando asneiras e o telespectador do amém só sorrindo feito vaca de presépio. Os animais que fazem parte das posses desses seres são imagem e semelhança, pitbuls agressivos que trucidam outros cães e pessoas, gatos que não respeitam os outros bichos que moram no mesmo ambiente e, na primeira oportunidade que têm comem o mais fraco, aqueles que acharem fazer parte do seu guia de degustações. Esse ato pode ser chamado de metáfora da empregada.
São inúmeros casos de incontáveis diversidades, o chato é admitir que grande parte das famílias possui exemplares dessa praga perniciosa, inclusive na minha. Está amarrado, arruda nele!
