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Sábado,11 de Janeiro

Leitura sem censura - Resistência e solidariedade - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 01/04/2008 às 11:40.Atualizado em 15/11/2021 às 07:29.

Adilson Cardoso



O senhor Santino Alves de Souza tem 52 anos, casado com dona Selmir Maria de Souza, seis anos a menos que ele, oito filhos. Seu Santino, como o chamam, é bastante humilde, de olhar atento e receptivo. Conta sua saga de lavrador em minuciosos detalhes, deixando clara sua necessidade de desabafo, subentendido um pedido de socorro. Talvez seja simplesmente mais um, que luta diuturnamente em busca da sobrevivência, que ao alcançar certa idade sente que as chances dessa conquista vão se distanciando, infelizmente é normal.



Mas o esposo de dona Selmir está clamando do extremo Norte do estado, há cento e setenta quilômetros da sede e apenas a duas horas de Montalvânia, na comunidade de Gibão-Gavião. Local que se destaca no cenário nacional pelo potencial turístico, com rios e cachoeiras de majestosa plasticidade, porém, ao mesmo tempo contrasta com a subvida de grande parte dos moradores.



O pequeno comércio do lugar é formado por um bar que, além das bebidas tradicionais, oferece alguns outros produtos da cesta básica, em lado oposto a um barracão que utiliza um dos cômodos para revender seus produtos, trazidos com muito sacrifício pelas estradas arenosas de armadilhas provocadas pela erosão.



Disto seu Santino reclama com sua razão de menos favorecido, uma lata de óleo custa quatro reais, café dificilmente se encontra, mas com grande disposição para enfrentar as dificuldades impostas, vai capinando uma roça aqui, outra acolá, plantando para um, sendo meeiro de outro e a vida segue.



Gibão-Gavião fica no município de Bonito de Minas, que tem o prefeito Zé Raimundo no comando. Pessoa que é querida pelos moradores, mostrando seu comprometimento para minimizar as dores sociais que geme esse povo.



A equipe do Unimontes Solidária, sob a responsabilidade do professor Gilson Froes, sentiu na carne o que esse povo padece, talvez nem fossem precisos os relatos dolorosos para entender essa realidade.



Para chegar até o Gibão foram sete horas de viagem do município sede, com uma noite tenebrosa de escuridão, chuva e relâmpagos que clareavam insistentemente as formas assombrosas, produzidas pelo receio de quem se sente no cenário de Poltergeist. Mas a vontade da ação voluntária de cada acadêmico ali dentro daquele ônibus venceu com cantorias, piadas, orações e muito amor. O ônibus atolou, o motorista entrou na estrada errada e passou por cima de uma pinguela tão curta que foi preciso que todos descessem e torcessem para que nada pior viesse ocorrer.



O objetivo foi alcançado, os moradores do Gibão acenaram com lágrimas nos olhos quando a equipe partiu de volta no domingo às 14h, as crianças que participaram das oficinas durante os encontros se uniram para reivindicar ao prefeito a volta do projeto.



Pelé, um dos moradores mais antigos, que também é sanfoneiro animador das festanças, já tinha tomado umas cachaças com raízes e versou para se despedir:



- Obrigado meus amigos, do fundo do coração, deste preto e de todos moradores do Gibão.

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