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Domingo,29 de Junho

Leitura sem censura - Ray Colares e o silêncio da arte - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 01/07/2008 às 10:09.Atualizado em 15/11/2021 às 07:37.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



Preparo-me para uma longa e desafiadora viagem pelos ocos e tocos, por becos e guetos, pelos cordéis em maestria matuta e nas palavras formais do jornalístico. Ao som das criações inspiradoras da terrinha de Figueira, como nos atos mostrados nos teatros dos nossos palcos, assim como as plasticidades das nossas telas e esculturas. Enfim, surrubiarei todos os cantos rimando, destecendo, para tecer meus próprios mantos. Para isto tenho um problema, este que de há muito me aflige. Quero saber qual o reflexo da arte de Ray Colares para a cultura montes-clarense.



Nascido em 25 de abril de 1944, em Grão Mogol, com o nome de Raymundo Felicíssimo Colares. Chegando a Montes Claros em 1951, em 1964 ganha uma bolsa de estudos da SUDENE, para terminar o curso científico em Salvador, onde faria depois Engenharia local. Na Bahia, descobre sua verdadeira vocação, conhece as obras de Klee e Mondrian e realiza as primeiras pinturas com o título de Alagados. Desiste de fazer o vestibular para Engenharia e dispensa a bolsa de estudos. 



Em 1965 muda-se para o Rio de Janeiro e se emprega como desenhista de jóias na H. Stern. Para sobreviver, em julho do mesmo ano volta para Montes Claros. Em 1966 retorna ao Rio de Janeiro, fixando-se no Bairro de Santa Teresa e ingressando na Escola Nacional de Belas Artes.



Junta-se aos jovens artistas da época, dentre eles Roberto Magalhães, Antônio Dias, Wanda Pimentel, Antônio Manuel, Lygia Pape, Hélio Oiticica e outros. Envia dois trabalhos para o Salão nacional de arte moderna e não é aceito. Em 67, abandona a Escola nacional de belas artes e freqüenta cursos livres com Ivan Serpa. Em abril faz sua primeira exposição pública, a convite de Antônio Dias, na mostra coletiva Nova objetividade brasileira, no Museu de arte moderna /MAM do Rio de Janeiro.



Participa ainda da V Exposição de arte brasileira, na Escola nacional de belas artes, e do Salão de arte contemporânea de Campinas.



Em 1968 ganha os prêmios Isenção do júri, no Salão nacional de arte moderna (MEC/RJ); 2º prêmio de pintura no Salão Esso do artista jovem (MAM/RJ), medalha de prata no Salão paulista de arte moderna e prêmio de aquisição no Salão da prefeitura de Belo Horizonte.



Começa a desenvolver os livros-objetos chamados Gibis, com papel recortado e manuseável. Com eles conseguiria a participação como espectador, uma questão que o preocupava.



No ano seguinte ganha diversos prêmios, faz sua primeira exposição individual no atelier livre do MAM/RJ. Em 1970 recebe o prêmio viagem ao exterior do Salão nacional de arte moderna, que lhe permite viver dois anos fora do país. Escolhe ficar seis meses em Nova York e um ano e meio na Itália. Ao retornar ao Brasil, vem para Montes Claros, onde fica até 1981 pintando paisagens para sobreviver, além de dar aulas de desenho e pintura no Conservatório estadual de música Lorenzo Fernandez. Em 1980 recebe um prêmio de aquisição no Salão de artes de Montes Claros, Arteboi.



No ano seguinte retorna ao Rio de Janeiro, montando um apartamento em Teresópolis. Suas obras são expostas na coletiva do Moderno ao contemporâneo, coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ. Sob a sombra de tanto talento e desenvoltura no processo criativo, Ray Colares foi um dos artistas que mais elevaram o nome de nossa cidade além das montanhas que nos cercam.



Apaixonado por Mondrian, disse certa vez que ainda iria entender aquele cara. Mas, por ironia, vendo o trabalho do mestre holandês com sua regularidade serena, estética arquitetural, poderia ser ao contrário já que Colares, era o oposto, pelo ritmo impresso com a necessidade de construção imediata, talvez Mondrian sendo contemporâneo que tivesse que entendê-lo, seu universo enamorado pela arte que se confundiu com a obrigação de viver e lhe torturou o emocional, a ponto de se internar e morrer queimado em hospital psiquiátrico de Montes Claros.



E para onde será que foi a memória do gênio Ray Colares que, de tão oculto, ele parece folclórico?  Com a palavra a cidade da arte e da cultura.

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