Leitura sem censura - Presos na leitura - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 08/05/2008 às 11:36.Atualizado em 15/11/2021 às 07:32.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



”Voar, voar, subir, subir, ir por onde for descer até o céu cair”, o sonho de Ícaro na voz de seda de Biafra.



Para abrir uma clareira rumo ao mundo infinito da leitura, este que construímos a nossa vontade e vivemos sob as regras fascinantes da paz. Montes Claros que, nos registros policiais, ultrapassa 30 assassinatos antes que chegue o ultimo mês do primeiro semestre, que a todo instante se escuta falar de roubo, de tráfico e outras perversões que levam o individuo à perda da liberdade. Presos, vão todos se juntar em pequenos espaços insalubres e falar daquilo que sabem fazer de melhor: vão unir forças e repousar sob o veneno da vingança que será letal quando pagarem pelo feito.



O deputado federal Domingos Dutra é relator da CPI do sistema carcerário nacional desde 2007, e critica severamente a forma perniciosa de lidar com o preso em todo o território .



No Instituto penal Paulo Sarate, no Ceará, as refeições são servidas em sacos plásticos, a mistura se torna uma lavagem e os presos são obrigados a comer.



Numa penitenciária de regime semi-aberto de Mato Grosso do Sul, os presos convivem quase que na mesma cela com porcos. Mas esse campo de concentração nazista, como disse o deputado, ou a fabrica de zoomorficação de gente, como vimos, ganha um novo trajeto em Montes Claros, com os acadêmicos do projeto de extensão do Observatório social: Cidadania e direitos humanos da Unimontes, sob a coordenação da professora Luci Helena Silva Martins, em parceria com o coordenador do presídio, coronel José Afonso Ferreira.



A campanha Presos na leitura tem como objetivo acabar com a ociosidade do preso, aliciando-o para a magnífica transformação através da literatura. Segundo o coronel, é uma exigência do estado que os presos sem instrução escolar fossem alfabetizados. A partir daí iniciaram-se parcerias para a consolidação daquilo que era também um sonho de todos: dar atividade para que mude o pensamento dessas pessoas em relação ao semelhante e  a si mesmas, dentro do convívio social.



A aceitação, conforme o coordenador, tem sido a melhor possível entre os presos, e o apoio irrestrito da sociedade à maçonaria, doando livros didáticos, o projeto acima citado, que envolve os acadêmicos de vários cursos, arrecada livros. No campus da Unimontes, os postos de coletas estão na biblioteca central, e no DCE, temos ainda no Centro cultural.



Mas, segundo o acadêmico do 7° período de Serviços Sociais, Edimárcio Nunes Santos, dependendo da quantidade de livros doados, eles vão em casa buscar.



Penso que chegou a hora de fazermos a nossa parte, se queremos esses presos ressocializados, com um mínimo de sentimento, vamos condená-los neste momento à prisão perpétua na leitura, para que, enjaulados nessa nova vida, jamais encontrem argumentos para se libertarem, que construam fugas, que façam seus motins, mas apenas nas páginas do livro. Mas, também, que recitem poesias, que conheçam os mistérios dos Sertões de Guimarães, que participem das dores de Bentinho sobre Capitu, que sorvam dos lábios de mel de Iracema, mas Olhai os lírios dos campos.



Doe livros e transforme esses vilões em mocinhos no próximo ato.





Edmárcio: 9195.4932


Professora Luci Helena: 3213.9550


Aldemar: 9102.2853

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