Adilson Cardoso
Peço licença ao amigo Bertolt Brecht para dar título ao meu texto inspirado no seu magnífico poema. Estamos às vésperas das eleições para recomposição do executivo e o legislativo, acontecimento de extrema importância que, sem sombra de dúvidas, ditará nosso futuro pelos próximos quatro anos. Causa-me espanto como nossa atual conjuntura é vista pelos eleitores. Não quero citar nomes de quem fez ou deixou de fazer, apenas dizer o quanto é perigoso entrarmos numa cabine de votação sem sequer conhecer o candidato. Não estamos praticando o nosso dever de cidadão, votamos e ficamos em casa criticando aquele que elegemos, como Maria-vai-com-as-outras. Somos alienados pela nossa falta de atitudes.
E quando se inicia a corrida pelos votos, começamos a nos entregar em leilões, pensando ser esta a maneira correta de tirar algo daquele que irá acumular seu tesouro como representante do povo. Assim, candidatos que burlam a lei fazem reuniões às escondidas, por saberem que nosso desejo de ganho individual sobrepõe o coletivo.
Não procuramos organizar comitês de esclarecimento do pretenso político, muito menos fazemos questão de buscar uma análise histórica dos seus atos. O Brasil é uma nação imensa, de inimagináveis extensões territoriais, que a cada dia vimos um novo município se emancipar. Porém, as idéias do povo que precisavam crescer politicamente ficam nas raízes atrasadas do desconhecimento ou da verdadeira ignorância política.
A fome chega quando a partilha não é bem feita, porém, não há lugar que essa ferida social não tenha produzido seus odores fétidos, alguém está comendo um prato a mais. Ou ficaram pessoas de fora dos planejamentos de melhoria da qualidade de vida, os planos de ações de emergências para situações calamitosas não foram desenvolvidos. A aceitação dos discursos populistas é outra mancha que carregamos na nossa história, por pura negligência.
O fato de a CPMF ter sido derrotada sem o povo se manifestar é mais uma prova desse nosso analfabetismo. Tudo bem que a contribuição criada para subsidiar a saúde não repassava quase nada ao seu destino. O que quero alertar é para as picuinhas oposicionistas. Lembremos que os criadores da contribuição foram, em sua grande maioria, os que ajudaram a derrubá-la, e o governo e seus aliados, que tantos conchavos fizeram para mantê-la, foram aqueles que eram contra a sua criação.
E nós não dissemos nada, como no poema de Maiakovski. Desta forma viveremos para sempre no ciclo vicioso da politicagem, porque ainda não entendemos a importância da política em nossa vida. Poucos de nós sabemos o que é fidelidade partidária, o que é uma emenda ou até a própria lei. Falamos tanto que as coisas estão fora das normas, sem sabermos o que é. Precisamos entender que o mesmo poder que temos agora, antes das eleições, com o político entrando em nossas humildes moradias e posando com a mão em nossas costas, deve prevalecer após o resultado das urnas, com o direito que a democracia nos concede e com o dever que a cidadania requer.
Em entrevista a um telejornal terça-feira, 13, um juiz mostrou sua clara insatisfação com o sistema, alegando que o judiciário é sempre culpado por não segurar alguns bandidos por mais tempo na cadeia, mas se ele contrariar a lei será punido com todo rigor, e alertou que é preciso mobilizar o congresso nacional, pois são eles que fazem as leis. Porém, milhões de eleitores Brasil afora não sabem disto, pessoas que apenas votam achando que, confirmado na urna, não tem mais o que fazer, e o político agradece. Tanto que até o papel de cada esfera chega a confundir mesmo quem se mete a dizer que entende de política.
E os escândalos vão acontecendo, cassação de prefeitos, comissões legislativas e parlamentares de inquérito, sendo exaustivamente mostradas na imprensa, e poucos sabem o porquê. Pois, para estes, o problema não é deles. E o arroz e o feijão ficam cada dia mais difícil de comprar.
Consciência!