· Figura carismática de sorriso pronto e cavanhaque de ator de far west. Dentro do peito uma paixão pelo Flamengo que se amplia a própria existência. José Geraldo dos Santos ou simplesmente "Gêra", ou seu "Gêra" como diz seu pequeno amigo Airon Augusto, de apenas 04 anos. Com todo o pacifismo da fala e a paciência no olhar, pouco se parece com o ferrenho sindicalista dos anos 70 e 80 no ABC Paulista. Foi lá que "Gêra" conheceu seu amigo que tomava uns goles de pinga e dirigia um fusca velho que só arrancava depois de muitos empurrões na lataria, amigo este que hoje é o mais famoso do Brasil e conhecido em todo planeta, pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva que o apelidou de companheiro "Mineirão".
Com grande desenvoltura e um orgulho imensurável de relatar sua luta, o amigo do Presidente diz que chegou em 1970 para trabalhar na Volkswagen, época em que a ditadura militar mandava no país e, dentro da fabrica os funcionários eram escravizados, sem o menor valor na escala humana tinham o direito apenas de submeter-se ás normas rígidas e aos olhares de assombro dos encarregados. Relembra que na época Lula era o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, pois o titular era um tal de Joaquinzão. Em 1978, com muitas mobilizações dos trabalhadores e o crescimento das atrocidades patronais eclode a primeira greve o norte de toda a evolução da classe trabalhadora. Foi na Escanner, fábrica de Camilhões, durante 30 dias houve intensa negociação e no final o saldo foi positivo, apesar de não ter conseguido tudo aquilo que reivindicavam os trabalhadores saíram com o previsto. Em seguida veio a Ford e, depois a Wolks nesta ultima a adesão já era maior que a primeira, pois a "casa de marimbondo" estava atiçada, a união tornou-se a voz de comando de todos os trabalhadores da região. Prossegue Gêra com entusiasmo, dizendo que a luta era tão séria que até os próprios colegas que resolvessem furar a greve eram retirados de dentro dos ônibus para não chegar as fábricas, segundo ele era feito o pedido para que descessem se o pedido não fosse atendido entrava-se em grupos de cinco ou até mais para tirar o traidor da sua rota. Em 1979, Lula o vice-presidente do Sindicato e funcionário da Fabrica de Elevadores VILARE, assume o cargo de Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, acompanhado do vice, Djalma Bom. Nesta época, as fábricas passaram a ser diariamente monitoradas pelo próprio Lula, que se afastou das suas funções como Torneiro Mecânico, para dedicar-se com exclusividade a causa dos trabalhadores.
O Companheiro Mineirão, esbarra a fala no ano 1982, em que houve uma grande greve de dois meses, com muita porrada das forças de Maluf em cima dos manifestantes e resistência dos grevistas com a força que obtinha. Nesta época, Lula foi preso e infelizmente também foi a ocasião da morte da sua mãe. A polícia o trouxe algemado para o velório. Continua saudoso recordando que Lula pagava prestações de um sobrado do antigo BNH. Ainda nestes tempos fora convidado para um aniversário da irmã de um colega, lugar de difícil acesso no Bairro de Diadema em São Paulo, era preciso descer numa barroca para chegar ao pequeno Barracão de três cômodos e um banheiro, a aniversariante era a esposa do hoje deputado, Advogado que também tornou-se amigo, era Vicente Paulo da Silva o "Vicentinho". Gêra com as mãos aposentadas das labutas das fábricas e das lutas para melhorias nas condições de vida do profissional se gaba de ter feito sua história, na história que se conta do ABC. Tem o sonho de um dia ter a chance de falar com seu ex-companheiro de luta e amigo que por tantas vezes choraram o choro da busca árdua pela conquista do ideal. De dentro de uma pequena bolsa preta meio camurça, o amigo saudoso de Lula retira uma carteirinha, com um sorriso largo mostra os dizeres : SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDUSTRIAS METALURGICAS MECÂNICAS E MATERIAL ELÉTRICO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO E DIADEMA. Nome : José Geraldo dos Santos. Matr :104084 de 21/03/80
Dn :15/08/51 Profissão : Funileiro
Presidente : Luiz Inácio da Silva.
E finaliza, Lula é um homem bom, foi traído por Zé Dirceu e muita gente que ele tanto ajudou, é um cara que pelo que conheço ajuda muita gente do seu próprio bolso. Um cara que está lá em cima por merecimento, por ter perdido até parte do corpo lutando para sobreviver.