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Segunda-Feira,13 de Janeiro

Leitura sem censura - Louco é quem não ama - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 12/06/2008 às 10:29.Atualizado em 15/11/2021 às 07:35.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



A rua estava deserta, ele maltrapilho de pés descalços atordoado pela álcool para em frente ao semáforo, sem noção de onde ir levanta a cabeça e contempla o céu. Carros parados em respeito ao vermelho, enfileiram-se na angustia dos afazeres. Andar simplesmente não lhe tirava a vontade de seguir, uma possessão pelo espaço que o desejo consumia, algo além do sentido fustigava-lhe, feito boneco vodu vai gemendo as dores pontiagudas em todas as partes. 



Bem longe dali um colibri suga sua flor de plástico, o doce do açúcar que lhe trará a morte,  no momento é seu prazer necessário. Na cabeça do homem imagens horrendas se projetam sem dimensão, feito telas de Goya gritando os horrores da Psique. Um torvelinho o conduz ao ermo de si, no meio da multidão que sangra a sobrevivência  nas idas e vindas,  passando submetido a censuras de todos os olhares sente-se sufocado pela amarra social denominada de vestimenta, vai livrando-se vorazmente de cada peça, até ficar inteiramente nu, coberto apenas pela insanidade que medra. 



No dia seguinte um frio teto de paredes  descascadas surge na sua primeira vista, leitos em filas desordenadas apontam seres escornados em roncos animalescos, sua cabeça  colada a um pescoço flácido não concatena a invasão  convulsiva dos comandos cerebrais. E vão nascendo novos dias junto com a razão, algo que se perdeu há algum tempo, porém razão e loucura se diferem no ato de sentir, a loucura é parceira a razão é agressiva. Foi a morte da esperança depositada no carinho , nos toques sentidos em beijos e abraços alucinados, dias em que a fantasia se fez dona dos seus seios e, reivindicou as mais nobres formas de amor  ancorando  sem modéstia.



A poesia como parte integrante de toda paixão, esqueceu as métricas e foi a inspiração do instante. Até que as regras impositivas pela  boa conduta social, vieram romper com o platonismo desta alma em ebulição enamorada, tornando-o este ser em total desolação, ao ver que seu romance findava ali, procurou a sarjeta para ser sua morada, e assim se concluiu o relatório do Psiquiatra que acompanha este homem ex-professor de Psicologia da Educação e assessor de imprensa de um colunista social. Durante dois anos  namorou fielmente com um poster de Rita Cadillac emoldurado de uma revista pornográfica, chegando ao extremo de usar aliança de compromisso com a foto.



Assim é o amor, sem saber como ou quando acontece conosco, de uma linda mulher a um cara do mesmo sexo, de um animal quadrúpede a um objeto inanimado. Amar é a essência de todo viver, com razão ou sem razão, é bom demais.

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