Leitura sem censura: Fábula em época de eleição - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
09/09/2008 às 09:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:43

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com

Escrevo mais uma vez sobre o assunto para reforçar a consciência. Vamos votar, mas é proibido esquecer o que se passou nos últimos anos. Esta eleição não se trata de desculpa do cara apaixonado que é corneado de segunda a sexta e perdoa na manhã de sábado para curtir a esposa no final de semana. O assunto é sério! Quem é esse que ora lhe pede que vote conscientemente?

Onde andava que nunca o vimos por aqui? Por que está tão vazia a sua lista de feitos? Consulte a internet. Quem sabe é alguém que não fez aqui, mas desenvolveu algum trabalho interessante em outra cercania. Mas não aceite que essas figuras de verão arranjem emprego no nosso parlamento. A hora de mudarmos toda a história chegou e nós estamos com a chave do destino dos próximos quatro anos. Se desperdiçarmos esta oportunidade apenas por simpatia a esse ou àquele, sofreremos todas as conseqüências.

Acompanhem esta fábula.

Havia um lugar onde a expressão que tanto evitamos - dois pesos e duas medidas - era usada formalmente e fazia parte da realidade dos moradores. Esse lugar tinha divisão de classes, pois uma parte gozava muito e a outra não possuía nada. Só que esse lugar era encantado e cuidado por guardiães, que eram homens simples mas, depois de escolhidos, adquiriam poderes divinos até de mover a natureza.

A escolha era feita pelos povos ricos e pobres. Porém, havia uma tendenciosidade para escolha dos mais abastados e eles,  por saberem das dificuldades dos mais humildes nesses tempos, davam tudo que careciam, de mesa farta a vestimentas, com direito a calcinhas de renda para as desnutridas senhoras. Aos outros, que já eram ricos, negociavam-se para depois cargos e posições privilegiadas na sociedade.

Toda essa situação durou até o dia em que alguém começou a notar que algo estava errado. Se os guardiães poderiam satisfazê-los agora, por que os deixavam passar tantas privações depois? Reuniu-se um grupo e decidiram formar um Conselho de entendimento, chamando os futuros indicados para uma conversa. Deixaram claro que não aceitariam mais nenhum tipo de favores na época das escolhas, mas que, após serem escolhidos, que dessem a mesma atenção dispensada aos mais poderosos.

Causou um certo rebuliço, pois quem já estava acostumado aos privilégios temeu pela perda, pressionando os futuros guardiães a dissuadirem os pobres, que não aceitaram outro argumento, ameaçando não escolherem o indicado.

Assim se passaram dias até chegar a hora em que escolheram sem troca alguma e foi notável a diferença. As chuvas vieram em abundância e as colheitas vingaram, expulsando a fome daquele meio.  Os outros acostumados a terem sempre o melhor tiveram que aprender a dividir e a riscar de uma vez por todas dois pesos e duas medidas e, para a próxima escolha, exigiram um representante dos paupérrimos. Se os guardiães foram escolhidos por aprovação da maioria, não tinham por que servir apenas a uma minoria.

Isto se chama consciência política, que o povo desta fábula só aprendeu quando raciocinou sobre a situação em que vivia. Que se um simples mortal adquire tais poderes é porque o povo elege. Sendo assim é o povo que tem a força para mudar; só falta saber usá-la.

No último domingo fui testemunha de um fato que será inesquecível: uma candidata linda e loura da respeitada elite montes-clarense se deu o direto de saber o que é diversão de pobre, ao parar seu Astra, quase zero, nas imediações do Parque das mangueiras, onde foi a manga de João Botelho, para ser mais exato o campo do Juventus. Com sua pele bem cuidada,  atravessou a poeira de mais de dez centímetros de altura para apertar a mão dos peladeiros. Eram pouco mais de sete horas da manhã; alguns estavam tão sujos pelas sucessivas quedas que as mãos tinham bolos de lama, pela mistura de suor com terra.

A candidata, soube-se então, disse que era cunhada de fulana com filhos formados em Medicina, Odontologia, Direito e mais uma série de causar inveja ao coitado do seu Zé Afonso, que trabalhou a vida inteira e mal conseguiu que os filhos terminassem o 2º grau, Essa candidata fora dessa época de barganha, pode ser que não se daria ao bel-prazer de fazer amigos tão insignificantes para seu ciclo social, que naquele espaço alcunham-se de: Boqueira, Taca-racha, Lobisomem, Barata-descascada, Panguado, Carniceiro etc... mas seus votos valem muito.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por