Leitura sem censura - Antônio dos Santos, o baiano - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 07/04/2008 às 16:34.Atualizado em 15/11/2021 às 07:29.

Adilson Cardoso



Caminhar com bom tempo numa terra bonita, sem pressa e ter por fim da caminhada um objetivo agradável, eis de todas as maneiras de viver aquela que mais me agrada. (Rousseau).



Desta forma serena e ímpar, nosso amigo Baiano completa seus bem vividos 71 anos. Nascido na cidade de Petrolina – PE, começou ainda menino a exercer diversos ofícios para ajudar a mãe. Sentindo-se no desejo de ocupar o vazio do coração matuto, conheceu dona Iracema e, nos encantos dos olhares enamorados, por dias e noites, nas ansiedades da paixão que não se esconde do palpitar do amor, contraíram matrimônio, e já está há 46 anos renovando esse desejo de estarem sempre juntos, de se deixarem apartar somente quando à vontade de Deus prevalecer, e um dos dois silenciarem para deitar na solidão da terra fria.



Uma longa viagem de três cansativos dias, nas poltronas de madeiras de segunda classe do trem de ferro, passando por Juazeiro e Salvador trouxe o casal a Montes Claros, o ano era 1961. Aqui, a sociedade era distintamente dividida em duas classes: ricos e pobres, sendo os ricos médicos e fazendeiros, advogados, chefes políticos e abastados comerciantes. No centro na fronteira desta desigualdade social, existia a pobre-classe-média, que eram comerciários, bancários, professores e detentores de pequenas heranças, que viviam negociando com os ricos, produtos e serviços e agregando pobres para mãos-de-obra.



Baiano veio com pouca bagagem, repleta de sonhos, perspectivas diminuídas pela formação humilde e o histórico de nenhuma posse. Mas tinha nos pés a habilidade dos grandes mestres do futebol brasileiro, foi assim que o sargento João Dias, após vê-lo jogando uma partida pelo campeonato varzeano, atuando de médio-volante pelo XV de Novembro, o convidou para disputar alguns jogos para o time da polícia militar.



Desses contatos e brilhantismo, fundaram o Tiradentes Futebol Clube. Daí em diante entrava para a história da polícia militar de Montes Claros o senhor Antônio dos Santos, o Baiano, querido e reverenciado por todos os amigos e colegas de corporação. A Escola de formação completou-se em finais de 1963, época conflitante no país inteiro, em que se impôs a ditadura de 1964, as forças policiais de Montes Claros são convocadas e rumam a Taguatinga.



Baiano, com os outros colegas de farda, cumpre a missão e volta para a terrinha de Figueira que aprendeu a admirar, amar e querer para si os mais simples momentos da então pacata cidade. Um policial diferenciado, que deixava jorrar além do seu interior um amor incondicional pela profissão, amando o próximo e respeitando de maneira exemplar.



Após 17 anos de reformado, Baiano relembra tudo como se tivesse acabado de acontecer toda sua trajetória vitoriosa em nome da pátria, orgulhoso por ter dois filhos Policiais que seguem piamente seus conselhos e conceitos. É, hoje, um evangélico, sem deixar sua paixão pelo futebol, que pulsa no grito o vermelho e preto chamado Flamengo.



Rodeado sempre dos filhos e netos, lamenta o aumento da violência e a banalização da vida, o número exorbitante de usuários de drogas e a ruptura da instituição família, que sempre foi a base da construção do ser humano.



Saudoso pelas andanças da memória que cisma em remexer na saudade canta um trecho de uma canção que fez ao deixarem Brasília após a participação na ditadura de 64:



- Adeus, Taguatinga, adeus! Terra de gente educada. Adeus está chegando a hora, Taguatinga, nós vamos embora para o 10º BPM, vamos para Montes Claros, para rever nossa terra cheia de glória.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por