Adilson Cardoso
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Quando comecei a ler Filosofia e conheci o Sr. Frederico Guilherme, um velho tomador de pinga de alcunha Nietzsche, através de um amigo lá da Vila Tiradentes também apreciador de cana, de nome Irineu Calixto, me propus a olhar o mundo de forma mais racional, sem medo de encarar as indagações sobre a minha situação pós partida desta terra de mulheres cachorras, mulheres moranguinhos, jacas, melões, melancias e similares.
Fui aprendendo devagar, com certo sofrimento, já que a consciência imposta ainda latejava em desabono. Descobri com pesar que o imenso azul que enxergo não é nada, simplesmente um truque da distância para não deixar o buraco aberto ali bem acima das nossas cabeças. Mas essa descoberta eu não gosto de comentar, me dá medo, pois quando criança que Supermam ainda me seduzia com sua força de aço do Paraguai, se borrando com medo da Cryptonita. Pensava que os monstros de asas imensas, habitantes de outros planetas, assim como os meteoros, cometas e naves espaciais só não entravam em nossa bola blue, devido ao telhado que nos cobria. Que pena!
Mas, em compensação, as nuvens brancas são reais, ainda que dotadas de sutilezas e mimos capazes de formar coelhos, borboletas, carros, pássaros e rostos com diversas fisionomias e, de repente, se desfazerem sem a menor explicação.
O senso crítico é bom, pois nos faz raciocinar sobre o que é proposto e deixa de fato uma imensa interrogação, cavocando as árvores genealógicas e tentando escalar o léu, para ver o trono de Deus, porém, é depressivo e aterrorizador quando descobrimos que nos colocaram um narizinho vermelho, como aquele do circo, desde o nascimento. E, ao menor sinal de tentarmos arrancá-lo, vêm alguns sectários mortos-vivos falar de pecado para roubar dez por cento do que você ganha.
A falta de competência de alguns estadistas por temores de perder regalias fizera com que a Mitologia se transformasse em seres altamente diabólicos, mas o processo não se deu naturalmente. Sábios da teoria do comportamento, entre outros propagadores da fé, fizeram uma teia muito bem articulada para prender as pessoas de todo o planeta, uma liberdade que foi tolhida a quantos mil anos não se sabe ao certo. Continua sendo podada e se transformando em clausura doentia, capaz de morrer e de matar em nome daquilo que está misturado ao líquido rubro que viaja pelos vasos periféricos arteriais. Tudo graças aos fortes poderes persuasivos e à cultura do medo como instrumento de contenção de qualquer rebeldia. Mas é preciso observar melhor o universo.
Está acontecendo alguma coisa paranormal, as predestinações fabricadas estão maquiando a verdadeira sina de todos os humanos, a deusa Gaia prepara vingança, a mensagem está nas mãos de Hermes, filho de Zeus e de Maia. Os Titans estão prontos apenas à espera das ordens do grande Deus para o grande sacrifício. Caronte, com sua barca contínua, transportando as vítimas da violência para as câmaras de Hades. Fênix, com sua reprodução independente, faz o colorido das asas da floresta saqueada voltar com sorriso.
Quem entregou ao demônio do Ocidente o tridente de Netuno irá pagar com ardor, sob os valores escatológicos estarão somados todos os cães mortais que usaram a religião para alienar os bitolados terminais. Apenas Prometeu pode dizer o segredo do fogo, se vai queimar em nome de alguma coisa que seja o queimor da verdade. E as águas de Posseidon se agitam, cuspindo as garrafas pet e as sacolas plásticas que matam as tartarugas.