Leitura sem censura - A imagem e semelhança - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 05/06/2008 às 15:44.Atualizado em 15/11/2021 às 07:34.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



Segundo os ditos religiosos, somos a imagem e semelhança do criador. Homens ricos e pobres, bons e ruins, intelectuais e ignorantes. Chama-me atenção o fato de estarmos fazendo certas analogias dessa semelhança do grande Deus com aquilo que também os religiosos chamam de diabo. Desta forma eu, que ainda engatinho na tentativa de me encontrar nesse universo de disputa entre o reino da glória e a quentura do inferno, fico ainda mais perdido.



Sem saída para entender, comecei a fazer algumas conclusões. Se Hitler é imagem e semelhança de Deus, prefiro ir para o inferno, mas se o inferno for barulhento como a Avenida Sanitária, em dia de jogo entre Cruzeiro x Atlético, quero ir para o céu. Mas, agora, os assassinos de Isabella são imagem e semelhança do coordenador geral do paraíso, fico de fato no inferno. Porém, se a cozinha do inferno for cheia de baratas e suja como alguns restaurantes de Montes Claros, não sei mais o que fazer.



Foi exatamente neste dilema da Esfinge que tive um dos mais loucos sonhos da minha vida. Um grupo de questionadores assim como eu fundou associação alternativa com sede no Campo Astral do Ego, entre o céu e o inferno. Essa fonte alternativa teria, a partir de então, a responsabilidade de acabar com indagações do novo morador do outro lado da cortina da vida.



Foi então que um pastor de uma igreja da terra que faz concorrência com a Coca Cola, cumprindo pena no inferno, entrou com um pedido de anulação da associação na câmara alta do capeta, sendo o pedido deferido pelo seu chefe supremo Antônio Carlos Magalhães. Só que lá no céu o senhor Karol Voitylla, que foi o papa João Paulo II, que só foi parar lá por pedido de São Pedro, também articulava um movimento para que a associação não fosse à frente.



Como no inferno, o pedido também foi deferido. Marcado então assembléia com as três facções, Céu, Inferno e Associação alternativa. O camarada comunista Porfírio, que provoca saudades na terra, fala em nome da última, com o microfone em mãos trêmulas como de costume, e seu relógio de pulseira frouxa. Fala da importância de se ter opção para viver a eternidade, salientando que Deus acusa o diabo de corromper as pessoas e tentar tirar dele as almas dos seus filhos.



Em contrapartida, o senhor dos caldeirões em ebulição diz que foi expulso do seu cargo de vice-presidente do céu por reivindicar lazer naquele lugar, e vai além, dizendo que foi a favor da comida na maçã. Se não fosse por ele, este mundo não estaria gozando a felicidade.



Depois de expor as duas versões, Porfírio diz que quem vive na terra é coagido a cada instante. Se pecar, vai para o inferno; se for bom, vai para o céu. Que o povo, principalmente os mais humildes, vive sob o chicote religioso. Se sai do católico, cai no protestante e continua apanhando. Lembra que existe um acordo entre os dois, pois nas igrejas evangélicas fala-se muito mais no demônio do que no próprio Deus. E conclui falando que a Associação alternativa é o lugar que será a imagem e semelhança da terra, porém, com algumas diferenças entre elas, o amor só fará parte para quem amar com intensidade a ponto de transbordar, de sair livremente pelos poros.



Calou-se e passou a palavra para o diabo, que chorava copiosamente, repassando a Deus que, também emocionado, nada pôde dizer. Pois viu que ir para o céu não é sinônimo de amor, que instituições da fé manipulam vidas para aquele lugar em prol do ganho. Também nem todos que estão no inferno são ruins, inclusive os questionadores que querem apenas entender. Assim eu acordei com uma enorme sensação de estar em outro mundo.

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