"Lat - Living apart together" Vivendo junto separado, ou um amor e dois tetos

Jornal O Norte
Publicado em 03/11/2010 às 08:44.Atualizado em 15/11/2021 às 06:43.

Felippe Prates



Em nossa última e recente viagem à Stratford-on-Avon, Inglaterra, terra natal do inigualável dramaturgo William Shakespeare, onde, num encontro de teatro a nível internacional, representamos, em Inglês, obtendo o primeiro lugar no papel título da famosa peça King Lear,  tomamos conhecimento da nova moda dos britânicos.  Nova, apenasmente pela freqüência com que o fato vem se repetindo últimamente, pois nada tem de novidade.



Marido e mulher, súditos da Rainha, em número crescente, estão preferindo viver em casas separadas, o que, segundo eles, enriquece a chama do amor e ainda pode representar uma boa economia de dinheiro.



A notícia de que Boris Johnson, prefeito de Londres, está vivendo num apartamento alugado a poucas quadras de sua família, tem levantado suspeitas sobre a saúde de seu casamento. Mas, existe outra razão para esse arranjo menos ortodoxo: ele e a mulher, Marina, são o mais recente casal que aderiu à moda do LAT - Living Apart Together, ou seja, Vivendo Junto Separado. E a tendência vem crescendo. Uma pesquisa de 2007 revelou que um em cada 20 casais mora em casas separadas.  Naturalmente, poucos escolheram viver assim para economizar, emboramente morar junto signifique desperdiçar dinheiro.



A maioria dos adeptos do LAT fez sua escolha porque ela atende bem às duas partes.  Morar separado mostra como a vida pode ser criativa e interessante, sem que cada um tenha que ficar o tempo todo gerenciando os sentimentos do outro.  E livra as pessoas daquele estresse de viver procurando alguém, busca insana que envolve o cotidiano dos solteiros.



Aqui no Brasil, todos conhecem casos de casais que, por opção, vivem em casas separadas.  Fernando Sabino, o notável autor de ótimos livros dentre eles “O Homem nu”, que inclúi  crônica divertidíssima, que dá nome ao livro, até morrer e durante os 30 anos que durou seu último e feliz casamento, viveu em casa separada de sua mulher. Foi grande amigo de Papai, o jornalista Newton Prates, que o lançou no jornalismo além de Rubem Braga e Paulo Mendes Campos. Dizia ele:



- Viver em casas separadas é o melhor que há, pois afasta tudo o que existe de negativo e obrigatório no casamento, permanecendo apenas o prazeroso e a curtição do relacionamento a dois. Alimentado pelos sadios e bons sentimentos, o amor do casal cresce mais e mais, aprofundam-se as  raízes e, com a licença do nosso querido poetinha Vinicius de Moraes, autor de belos poemas, eterniza-se e dura para sempre!  De vez em quando minha mulher me visita e até passa um fim de semana ao meu lado. Na agradável expectativa de sua chegada, providencio as flores de sua preferência para enfeitar a casa e dou ordem à empregada para fazer as comidas que ela gosta.  Não é romântico?  Impensável, quando ambos vivem sob o mesmo teto e graças à adoção desse sistema do cada um no seu canto, o nosso casamento está cada dia mais sólido, concluía Fernando.



No passado, viver cada um na sua casa era privilégio dos nobres, que moravam em alas diferentes,



vivendo praticamente separados.  Atualmente, apesar da recessão, viver separado significa acúmulo de bens. Casais jovens acham que têm tantas coisas que não cabem numa única casa e, formada a parceria, em vez de morar juntos preferem construir individualmente seus próprios ninhos e desfrutar as alegrias da independência.  Sem contar a sadia preocupação pela novidade, procurando oferecer ao seu amor, quando se vêem, algo novo, que desperte elogios...



Morar sozinho é sinônimo de viver exatamente como você quer. Duas pessoas trabalhando em casa todos os dias, se vendo durante todo o tempo, têm tudo para gerar uma situação de estresse.  Mesmo quando só uma trabalha em casa, as constantes interrupções dos afazeres por conta da rotina familiar podem ser irritantes.



Rotina! E este o veneno mortal que liqüida até com o relacionamento entre os que se amam!  Por outro lado, se roncar pode levar duas pessoas casadas a dormirem em quartos separados, melhor ainda é morar em casas separadas, pois ninguém ronca porque quer, com a intenção de perturbar o sono do parceiro, independe da sua vontade. As pessoas se envergonham disso e passar recibo de tão desagradável realidade, as humilha, aumentando o constrangimento e o desconforto de quem ronca, perigando o casamento.



Se da primeira vez viver juntos acabou em divórcio, por que não tentar, na segunda chance, deixar para trás o mau agouro do casamento e voltar a viver em casas separadas? Sem precisar, toda manhã, ao acordar, muitas vezes ainda sob os eflúvios de lindos sonhos, ao ouvir um gentil “bom-dia”, ter que suportar o terrível mau hálito da pessoa amada, ao seu lado. Situaçãozinha delicada, em que se torna inconveniente e difícil reclamar, mesmo ressalvadas, num entrechoque  de sentimentos, as inoportunas mas pertinentes reações negativas. Um horror, que ninguém merece!



* ”Disgusting, but real!”  Nu e cru.



E mais: fiel aos ensinamentos de Álvaro Moreyra em “As amargas, não!” apaixonados parceiros, cada um no seu cada um, ensejam e vivenciam este componente romântico da vida: ao buscar manter acesa a chama em nome do amor que os une, em uma corajosa, incomum mas inteligente opção, resolveram morar em casas separadas. 



Boris, o prefeito e sua mulher Marina, não estão sozinhos.  Ano passado pipocaram boatos de que Brad Pitt estava morando na casa principal da enorme propriedade em Long Island, enquanto sua mulher, a linda Angelina Jolie, ocupava um dos anexos, emboramente apaixonados e famosos.  A atriz inglesa Helena Bonham Carter vive com o astro Tim Burton, em Londres, em três casas interligadas. E juram que o casal e seus filhos formam uma família feliz.



* “Disgusting, but real!” – Fala da peça King Lear, de William Shakespeare.     



Tradução: Desagradável, asqueroso, mas verdadeiro!



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