Jack, puta puto!

Jornal O Norte
13/01/2006 às 10:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:28

Clídio de Moura Lima *

Ela era uma boa pessoa, boa em todos os sentidos, inclusive...

Um dia começou sua mudança de vida, por inteiro. Transmudou-se, virou outra coisa. Tornou-se bicho, animal sorrateiro e inconseqüente. Ninguém mais tinha coragem de enfrentar Jack nos seus momentos de completa alucinação. Oh! Louca. Só pensava em curtir, como se a vida fosse acabar agora, já.

- Ela dava de todas as maneiras, fazia gozar e parecia sempre insaciável

Ela se prostituiu, começou a dar, iniciou uma vida de inteira perversão sexual. Só pensava naquilo. E era dia e noite e a qualquer hora. O negócio dela era transar, trepar, pois droga precisava comprar; e se nada encontrasse para tanto, subia na escada. Queria mesmo era vender seu corpo e na droga se saciar. Ah! Louca. Dava. Ela dava de todas as maneiras, fazia gozar e parecia sempre insaciável. Ela era uma pessoa realmente incrível, simpatia por inteiro, machismo à parte, era uma pessoa bonita mesmo.

Jack era assim mesmo, volúvel, docemente agressiva, voraz, parecia que queria engolir tudo com sua sexualidade anômala ou na prática de sexo sem definição do que seja normal. E, nesses casos, fazia a coisa muito bem; e assim fazia desfilando os contornos de seu corpo másculo afeminado ou de fêmea masculinizada(?). Fazia muito bem o strip tease.

Doce e puramente era fêmea de desejos, seu corpo apenas tinha traços de macho aqui e ali. No fundo, mesmo, o que queria? Ser fêmea? Transava com as gatinhas sem dispensar um namorado, certo? Sua arrogância ou seu nervo era teimosia que a experiência comum dispensa esclarecimentos de psicólogo, ou seja, de profissional outro que tenha mister para definir os desejos daquele monumento de beleza e atração sexy. Ela era uma pessoa que tinha verdadeiro sex appeal. Seu corpo atraía... E ardia de excitação.

Ela já vinha assim de muitos anos, louca, louquinha da silva. Prostituída, alcoolizada, drogada. Aí o pau quebrou. Cheirava, lambia e se lambuzava com qualquer droga, de preferência que estivesse enrolada ou lambuzada no membro perpendicular de procriação ou em uma vulva... Era andrógino, hermafrodita, tudo fazia por uns trocados, apenas para comprar drogas? Quem é que sabe, quem interessa saber? Afinal de contas, o nome da pessoa, Jack, vem de Jackeline? Vem de Jackson? Andrógino? Por que te preocupas? Jack já desabafou contigo e de ti disse que estás em débito nos barzinhos há tempos, que tu não pagas onde tu compras, tu não tens crédito algum. Tu és um drogado, maconheiro. Disse mais de ti: que Freud já dissera que veado é, quem veado chama; e nisto, outra coisa, do popular: quem desdenha quer comprar.

Miserável lacaio se o linguajar aqui permitisse, continua Jack, falando de ti, diria que tu és um veado, como não se lhe permite tal linguajar, reservado apenas para Nelson Rodrigues, Jorge Amado, Sebastião Nunes e tantos outros expoentes da literatura brasileira, afirma Jack que tu és um belo espécime de cervo, hipócrita cortesão da falsa moral. Tradução: Um puta veado!

- Dispensou as pessoas que a acompanhavam e que ela também acompanhava nas orgias e bacanais...

Jack afirma ainda que sua pessoa não foi consultada para nascer. Opção alguma lhe foi dada. Apenas nasceu neste país da corrupção, da discriminação sócio-cultural, da discriminação de opção sexual etc. etc. Que ela é uma boa pessoa, fruto de mutações endógenas já trazidas dos fatores endócrinos, enclausurados nos seus gens e influenciados por fatores exógenos. Os hipócritas são cortesãos da falsa moral.

Até que, um dia, Jack caiu na real. Assumiu sua verdadeira identidade sexual e passou a ser feliz para sempre. Dispensou as pessoas que a acompanhavam e que ela também acompanhava nas orgias e bacanais de sexo, droga e rock’n roll, para dar início a uma nova vida. Procurou afastar-se da maledicência, da cupidez e principalmente das drogas. Ela conseguiu. Jack é uma pessoa não muito inteligente, sua cultura é razoável, tem determinação, força de vontade e sabe das coisas: Que a Inglaterra tem lei que permite casamento entre pessoas do mesmo sexo, denominando tal casamento de parceria civil. Jack vai casar.

E tu, com esta discriminação tola e fútil, não pagas o que compras, nem sequer és capaz de deixar a maconha da Souza Cruz, sempre propalas que vais deixar de fumar e não consegues deixar tal vício. Cachorro! Tua língua comprida dá nódoas aos vermes. 

Hoje, assumindo sua identidade sexual, Jack está trilhando um caminho melhor, anda praticando o bem. Deixou de roubar, deixou de beber, deixou as drogas ilícitas, as substâncias entorpecentes que causam dependência física e psíquica e a prática de sexo selvagem, acabou a lascívia. Tudo era droga na sua vida, sua vida era uma droga. Sua lição de mudança de vida veio trazer muitas alegrias a muitas famílias. Jack não morreu. Vive outra vida renovada, trabalho honesto, a dar exemplos. Muito bem, doida, você mudou mesmo. Ela hoje é outra pessoa.

Qualquer semelhança é mera coincidência. O conto é fictício.

* Advogado e professor da Unimontes, autor do livro Leia o trem

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