Terezinha Jardim
É curioso como aromas e ruídos persistem em nossa memória.
De minha infância em Belo Horizonte, lembro-me do som da chuva caindo fininha nas folhas da parreira.
Havia outros cheiros também. O cheiro de cera do chão de madeira encerado, o cheiro de pão torrado com manteiga e do chocolate com leite que madrinha Biju levava à noite para minhas primas.
Havia o cheiro limpo de lençóis branquinhos e cobertores de lã azul, o perfume de inúmeras flores do jardim da casa de minha tia-avó. Das verdes folhagens que existiam no outro lado da casa, num pequeno quintal.
No fundo da casa, havia o onipresente perfume das flores da jabuticabeira, do abacateiro e das laranjeiras...
Além dos cheiros e sons agradáveis, havia a misteriosa presença de Joaninha, velhinha redonda com enormes olhos azuis e ralos cachinhos brancos. Morava no quartinho dos fundos e era avó-paterna de minhas primas.
Ficava na janela de seu quarto e nos chamava para entregar estranhos embrulhos de papel de pão e barbante; que, ao serem abertos, revelavam comida, pão velho e até arroz. Ela, não gostando da nora – já caducando – nos dava, ou jogava no corredor da casa vizinha e dizia: - Maria não me dá comida.
Maria era vovó mãe.
Havia, acima de tudo, o cheiro da felicidade e o som da alegria de uma infância rica e satisfeita.