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Segunda-Feira,13 de Janeiro

Infância - por Terezinha Jardim

Jornal O Norte
Publicado em 16/06/2008 às 11:25.Atualizado em 15/11/2021 às 07:35.

Terezinha Jardim



É curioso como aromas e ruídos persistem em nossa memória.



De minha infância em Belo Horizonte, lembro-me do som da chuva caindo fininha nas folhas da parreira.



Havia outros cheiros também. O cheiro de cera do chão de madeira encerado, o cheiro de pão torrado com manteiga e do chocolate com leite que madrinha Biju levava à noite para minhas primas.



Havia o cheiro limpo de lençóis branquinhos e cobertores de lã azul, o perfume de inúmeras flores do jardim da casa de minha tia-avó. Das verdes folhagens que existiam no outro lado da casa, num pequeno quintal.



No fundo da casa, havia o onipresente perfume das flores da jabuticabeira, do abacateiro e das laranjeiras...



Além dos cheiros e sons agradáveis, havia a misteriosa presença de Joaninha, velhinha redonda com enormes olhos azuis e ralos cachinhos brancos. Morava no quartinho dos fundos e era avó-paterna de minhas primas.



Ficava na janela de seu quarto e nos chamava para entregar estranhos embrulhos de papel de pão e barbante; que, ao serem abertos, revelavam comida, pão velho e até arroz. Ela, não gostando da nora – já caducando – nos dava, ou jogava no corredor da casa vizinha e dizia: - Maria não me dá comida.



Maria era vovó mãe.



Havia, acima de tudo, o cheiro da felicidade e o som da alegria de uma infância rica e satisfeita.

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