Maria do Carmo Veloso Durães
Tem dia que a gente fica pensando... Que mundo é este em que vivemos? Percebemos que o mundo é o mesmo, mas os tempos são outros. Aí, vão chegando as lembranças... Ah, tempo bom era aquele! Bate a saudade da infância! Daquele tempo mágico em que se acreditava nos bons; que o bem sempre vencia o mal; que se apostava na honestidade e podíamos confiar um no outro; que a Educação era coisa séria, todo aluno fazia o próprio trabalho escolar, sabia a tabuada de cor e fazia as contas sem calculadora, quando ninguém queimava etapas, só passava de ano quem realmente aprendia; que os fatos da vida nos eram informados de acordo com a nossa faixa etária; que as cegonhas trabalhavam com transportes aéreos; que se devia respeito aos pais, aos mais velhos, aos professores e criança não entrava em conversa de adulto; que as palavras “obrigado”, “desculpa” e “por favor” faziam parte do nosso repertório vocabular no dia a dia; que se conhecia todos os vizinhos e ninguém chegava sem cumprimentar “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, nem saia sem se despedir “até logo”, “até amanhã”... que uns desejavam aos outros “bom trabalho”, “boa aula”, “boa prova”, “bom final de semana”... que as portas ficavam sempre abertas para a visita que chegasse, todos eram bem-vindos para o cafezinho da hora com biscoitos, bolos, coscorões e um bom bate-papo; que à noite pedíamos a bênção ao pai e à mãe e dormíamos felizes com o “Deus te abençoe”; que rezávamos antes de dormir e acreditávamos naquele Anjo da Guarda bonitinho que andava atrás da gente nos fiscalizando e protegendo; Deus não era questionado, era mesmo uma entidade sagrada e domingo era dia santo de guarda; Natal não era comércio e sim uma data de reunião familiar e Papai Noel era só um bom velhinho; que a Pátria era realmente amada, cantávamos com emoção o Hino Nacional e sentíamos orgulho do nosso país; que não se podia usar drogas; que escutávamos discos de vinil e aos domingos assistíamos a filmes nos cinemas, apenas censura livre, nas sessões das duas ou das quatro; que líamos Contos de Fadas e outros livros infanto-juvenis, também líamos gibis e trocávamos figurinhas que colecionávamos em álbuns; que o Baralho era só para adultos, mas jogávamos Ludo ou Dama e não existia Videogame, nem Playstation; que os amigos não eram virtuais; que nos divertíamos fazendo os nossos próprios brinquedinhos; diversão também era comer fruta no pé e brincar no quintal; que fazíamos teatrinhos e brincávamos de roda e inúmeras outras brincadeiras, sempre compartilhadas com os amigos; que as casas tinham muros baixos onde sentávamos para contar e ouvir histórias; que ainda se olhava para o céu, víamos bichinhos nas nuvens e, à noite, contávamos as constelações, atentos às estrelas cadentes para fazermos pedidos impossíveis; que o luar era dos namorados, das serenatas e da garotada que brincava na rua que era de todos a qualquer hora; que ninguém jogava lixo nas ruas ou em qualquer outro logradouro público; que não se usava sacolas plásticas, nem copos descartáveis; que o ar era respirável, sem poluição e as chuvas não tinham acidez; que comíamos alimentos sem conservantes e sem agrotóxicos; que o nosso medo era só de fantasmas; que víamos o futuro com esperança... Mas acabou a magia das descobertas, agora todos sabem tudo!
...E o anjo da guarda foi morto, talvez uma bala perdida. Acertaram também a cegonha e prenderam o Papai Noel. Embora desacreditado, o bom velhinho ainda aparece, na época do Natal, com a sua imagem exposta em lojas no mundo inteiro, mas do Anjinho e da Cegonha, raramente se ouve falar, já estão caindo no esquecimento coletivo.