Júlio César Dias Alves


Acadêmico de Direito e mestre de bateria da Academia da Vila

Fico imaginando como seriam contadas as antigas histórias infantis diante dos atuais acontecimentos no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro.

A forma e os personagens seriam atualizados para melhor entendimento das crianças de hoje.

Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, não mais atravessaria a mata para levar comida para a Vovozinha, mas seria a chefe do “movimento”, da facção representada pela cor do seu chapéu. Na cesta, não mais alimentos, mas sim drogas, armamentos e munições, que abasteceriam a boca de fumo gerenciada pela Vovó, na parada que fora tomada, num ‘bonde’, pelo Lenhador (que, dizem, é hoje matador de posseiros na Amazônia), sob o comando do Lobo Mau.

E o que dizer dos 3 Porquinhos, antes perseguidos aos sopros pelo Lobo Mau? São agora discriminados por causa da gripe suína; foram na verdade desalojados de suas residências pela Defesa Civil, em virtude das várias inundações, e suas casas consideradas em áras de risco.

A Branca de Neve estaria sendo processada pelo Ministério do Trabalho, acusada de escravizar os 7 Anões em minas sem licença ambiental e de exploração, além de viver em um castelo cuja construção não tem comprovação de renda lícita.

Talvez a Bela Adormecida tenha “caído” no golpe do “Boa noite Cinderela” (protagonizado por um príncipe encantado do tipo GLS), tomado um sossega-leão e só acordado dentro do Samu, chamado pelas Fadas Vizinhas.

Como contar a saga do mais famoso bom de lábia, o Gato de Botas, sem dizer que ele tem vários mandados de prisão por estelionato, o famoso 171(além de disseminar bronquite asmática por onde anda), procurado inclusive pela Interpol, acusado de transportar ilegalmente dólares nas botas e na cueca...

E o Peter Pan, quem diria, foi eleito senador, empregou o Capitão Gancho por ato secreto, foi acusado de assédio sexual pela sua assessora Wendy, voa agora sem necessidade do pó de pirlipimpim, pois teve seu nome envolvido na chamada Farra das passagens aéreas, e ainda deixou os Garotos Perdidos mais perdidos ainda, quando foram apreendidos pela Febem em uma manifestação contra uma invasão apoiada pelo senador Peter, do MSTN, ou seja, Movimento dos Sem Terra do Nunca.

Pinóquio, agora atendendo pelo nome artístico de “Erectus Forever”, é um requisitado ator pornô (talvez, por ser de madeira, é pau pra toda obra...), reconhecidamente por seus dotes nada convencionais de crescimento de determinado membro do corpo, motivado por uma simples mentira... e mentira é que não falta por aí.

Verdadeiramente, é claro que nunca contaríamos a nossas crianças as histórias desta forma, já que esperamos que continuem infantis, mesmo ante o estresse cotidiano das nossas incansáveis cidades modernas, mas que fique como alerta, como aviso, esta brincadeira com os contos antigos, senão veremos ao final o fatídico resultado: Sociedade 0 x 1 Bangu.

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